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SÉRIE 'SOB PRESSÃO' BUSCA REALIDADE DO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICO NO BRASIL
24/07/2017

Júlio Andrade sempre teve aversão a sangue. Passagem por médicos e hospitais, então, foram coisas raras na sua vida. Quando o ator recebeu o convite de Andrucha Waddington para viver o cirurgião Evandro no filme "Sob Pressão" (2016), recusou dizendo que não daria conta.

Depois de o diretor insistir bastante, aceitou. E afirma ter sofrido muito fazendo os laboratórios para o papel, assistindo a algumas cirurgias, acompanhando médicos.

"Foi bem difícil, é um tema pesado", diz. "Mas, acompanhando o dia a dia desses médicos, vi que é um trabalho como qualquer outro e a que o ser humano se acostuma."

Ele também se acostumou. E topou retomar o cirurgião na série "Sob Pressão", derivada do longa, que a Globo estreia nesta terça (25), com direção de Andrucha e Mini Kerti.

 O roteiro é de Jorge Furtado, Antonio Prata, Lucas Paraizo e Marcio Alemão, baseado no livro homônimo sobre a rotina do médico Marcio Maranhão, escrito por ele e Karla Monteiro (e agora reeditado pela Globo Livros).

O seriado expõe a realidade da saúde pública brasileira por meio dos dilemas vividos por Evandro e por outros médicos, como Carolina (Marjorie Estiano), e de pacientes.

Evandro é praticamente um MacGyver, define o diretor. Ele lida com a falta de quase tudo para salvar vidas.

No primeiro capítulo, não há mais drenos para o paciente. O médico sai correndo pelo hospital, pega uma mangueira e a corta em pedaços. Desinfeta o material e faz dele os drenos de que precisa. O caso é real e narrado por Maranhão no livro. Em outras situações, falta medicação ou aparelhos para diagnósticos.

Essas e outras histórias reais ouvidas pelos roteiristas em visitas a hospitais públicos do Rio foram usadas na série. Mas são as tramas dos pacientes, mais do que a dos médicos, que os autores apostaram em levar para a tela.

"Todo mundo já passou por um hospital, e os problemas que se revelam ali são muito de relações pessoais", diz Jorge Furtado.

NADA DE 'HOUSE' OU 'ER'

Quem gosta de séries médicas americanas, glamorizadas, "quebrará a cara", diz Andrucha. "Não tem série médica brasileira de fato, que aborde nossa realidade. Nosso sistema de saúde é diferente. Lá eles não precisam improvisar porque falta material."

Apesar do realismo, tanto na dramaturgia quanto na conceituação, a trama não faz denúncia, afirma o diretor. "A questão política está presente como um assunto. É a polaroide de uma situação e trazemos isso para o debate."


Fonte: Folha de S. Paulo