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FALTA DE KITS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARALISA EXAMES DE HIV EM SÃO PAULO
10/08/2017

A falta de kits para exame de carga viral distribuídos pelo Ministério da Saúde afeta todos os 14 centros de referência de São Paulo para tratamento de HIV. São os chamados SAE (Serviço de Atendimento Especializado). Os pacientes em tratamento do vírus devem fazer os testes a cada seis meses para monitorar a infecção.

Sem se identificar, a reportagem entrou em contato com os 14 centros de atendimento da capital e a informação é de que não há previsão para retorno dos exames, suspensos pelo governo federal. Em alguns casos, pacientes estão há três meses sem o atendimento, a exemplo do SAE M'Boi Mirim.

O professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp Francisco Aoki diz que o exame de carga viral é necessário, já que permite calcular a quantidade de vírus no sangue do paciente, além de fazer o controle do tratamento com antirretrovirais, utilizados no tratamento da Aids.

"Quando este controle é adequado, detecta partículas virais, de maneira ideal".

O especialista ainda reitera que, caso a carga viral aumente significativamente, o paciente pode ter uma resistência ao tratamento, causando até o abandono.

Um ex-usuário de drogas desempregado, de 37 anos, fez o exame há quatro meses e considera absurda a situação, já que, segundo ele, o número de infectados tem aumentado no país.

"Sou uma parte da estatística que infelizmente tem crescido. O mínimo que quero é uma melhor qualidade de vida, já que a perdi", diz.

MOBILIZAÇÃO

Ativistas ligados a ONGs e a redes de pessoas vivendo com HIV e Aids prometem se mobilizar nesta quinta (10) em frente à prefeitura, no viaduto do Chá (região central), para chamar a atenção ao problema.

"Os programas municipais precisam ser fortalecidos, mas muitos estão sem recursos ou quadros para a continuidade de suas ações", afirma Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo.

"A Aids continua sendo um problema grave de saúde pública, precisamos de compromisso dos gestores para enfrentá-lo".

O Ministério da Saúde diz que em 2016 foram realizados 550 mil exames deste tipo no país.

No SAE Campos Elíseos, ao lado da cracolândia, muitos pacientes precisam do atendimento. Um deles, que pediu para não ser identificado, foi até o local nesta quarta (9) pois sentia dores e mal-estar.

"Vim marcar um novo exame, ver a necessidade de fazer o cálculo do vírus e voltar a tomar as medicações, mas me surpreendi ao nem saberem quando vão voltar a oferecer o exame. Acho essa situação um descaso. Além de ser refém da doença, terei que ser do governo?"

O site do Ministério da Saúde afirma, em nota publicada na última terça (8), que foi realizada nova compra de exames de carga viral e que o volume total do primeiro lote deve chegar em todos os Estados até o final da primeira quinzena de agosto; a segunda remessa, diz, até o final deste mês.

A Secretaria Municipal da Saúde, sob a gestão João Doria (PSDB), diz que, por não ter recebido os kits de exame de carga viral do governo federal desde 30 de maio, tem priorizado os exames para gestantes e crianças menores de 1 ano e seis meses em investigação ao HIV.

A pasta diz aguardar a normalização do abastecimento pelo órgão federal para retomar o atendimento. 


Fonte: Jornal Folha de S. Paulo