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FILANTROPIA PARA TRATAR CÂNCER EM HOSPITAIS PRIVADOS DE SP CORRE RISCO
22/02/2018

Um ano atrás, a dentista Ana Beatriz Maia, 39, retirou uma mama em razão de um câncer. Em 25 de janeiro, deveria ter feito a reconstrução mamária, mas a cirurgia foi cancelada dias antes.

Nesta quarta (21), Ana saiu chorando do ambulatório de câncer de mama do Hospital Sírio-Libanês (SP), onde é acompanhada. "O médico disse que não tem previsão. Nem da cirurgia e nem de nova consulta. Estou desesperada."

 

A mesma apreensão é compartilhada pela dona de casa Edna Barbosa, 61. "O que vai ser de mim? Estou na quarta sessão de quimioterapia e a cirurgia deveria ser em junho. Mas a médica já disse que eu deveria procurar outro local."

Ambas fazem parte de um grupo de 2.200 mulheres atendidas em um dos projetos que o Sírio tem dentro de um programa do Ministério da Saúde (Proadi-SUS), por meio do qual hospitais filantrópicos de excelência recebem isenção fiscal federal em troca de parcerias com o SUS (como atendimentos, cirurgias, cursos, treinamentos).

Em São Paulo, quatro hospitais (Sírio, Albert Einstein, HCor e Oswaldo Cruz) têm projetos no Proadi, que são revistos a cada três anos.

Neste triênio, serão priorizados projetos que atendam às demandas nacionais do SUS (como capacitação de gestores, programas de segurança do paciente) e não às necessidades apenas do município. Esses correm o risco de serem "descontinuados".

Além das cirurgias da mama, o ambulatório do Sírio garante acompanhamento clínico das mulheres por dez anos. Após passar por duas cirurgias (mama e tórax), Gislene Charaba, 30, teme perder esse acompanhamento.

"Tive um câncer hereditário, pode voltar. Faço acompanhamento com ressonância magnética e ultrassom a cada três meses. Na UBS perto de casa, são oito meses para conseguir ressonância", diz ela, que organiza um abaixo-assinado contra a medida.

O diretor-geral do Sírio, Paulo Chapchap, garante que o atendimento a todas as mulheres que já estão inseridas no projeto vai continuar independentemente de decisões dos governos federal, estadual ou municipal.

"É o nosso compromisso. Se precisar ser do nosso custeio, fora do Proadi, a gente vai manter. Somos a Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-Libanês."

Sobre o ingresso de novas pacientes nesse projeto e a continuidade de outros, Chapchap diz que o hospital está em negociação com a Prefeitura de São Paulo e com o Ministério da Saúde.

EINSTEIN

No hospital Albert Einstein, dois projetos do Proadi estão sob risco: um do Hospital Municipal Vila de Santa Catarina, que realiza cirurgias oncológicas e partos de alto risco, e outro que funciona na comunidade de Paraisópolis, com pediatria especializada.

No programa de pediatria, foram atendidas 10 mil crianças em 2017, com 42 mil atendimentos multiprofissionais. No hospital municipal, foram 1.700 cirurgias oncológicas e 18 mil atendimentos de emergências obstétricas. Ali, só está garantido no Proadi o projeto de transplantes, que em 2017 realizou 143 cirurgias.

"Estamos negociando com o município para saber se há interesse deles na continuidade desses atendimentos e, se não for, a gente vai dirigir os esforços para outros projetos", afirma Sidney Klajner, presidente do Einstein.

Por meio da assessoria de imprensa, o secretário municipal da Saúde, Wilson Pollara, disse que está analisando a situação e discutiria soluções em reunião da comissão tripartite nesta quinta (22).

No hospital Oswaldo Cruz, pelo menos um projeto mantido por meio do Proadi, na Mooca, que oferecia procedimentos diagnósticos de alta complexidade (inclusive para câncer de mama) e cirurgias bariátricas foi encerrado no final de janeiro.

Em nota, o hospital diz que "todos os exames e laudos foram entregues aos pacientes, que serão encaminhados às unidades de saúde mais próximas às suas residências".

Francisco de Assis Figueiredo, secretário de Atenção Básica do Ministério da Saúde, diz que a prioridade do Proadi são projetos que apoiem o SUS em âmbito nacional e que até o fim de fevereiro estarão definidas as novas ações para o próximo triênio.

Segundo ele, foi verificado que nos projetos voltados para a assistência os hospitais estão praticando preços muito acima da tabela SUS, o que seria insustentável. "Essa situação precisa ser ajustada."

 


Fonte: Jornal Folha de S. Paulo