Isto É: À beira do colapso
25/07/2014
A Santa Casa de São Paulo, maior hospital filantrópico da América Latina, fecha as portas do pronto-socorro por 30 horas, deixa seis mil pessoas sem atendimento e expõe a situação de penúria dessas instituições no País
Na terça-feira 22, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo fechou as portas do pronto-socorro por quase 30 horas e deixou de atender mais de seis mil pessoas. O motivo da interrupção nos serviços da maior instituição filantrópica da América Latina é a falta de recursos para comprar medicamentos e itens básicos, como seringas e esparadrapos. A instituição tem hoje uma dívida de R$ 50 milhões com fornecedores, que, segundo o provedor do hospital, Kalil Rocha Abdalla, se negam a entregar novas encomendas enquanto o valor não for pago. A crise não é exclusividade de São Paulo. Outros hospitais filantrópicos brasileiros também estão à beira do colapso e podem fechar. Estimativas do setor indicam que as dívidas das instituições filantrópicas brasileiras chegam a R$ 15 bilhões.
Em Belo Horizonte, a maternidade da Santa Casa ameaça encerrar as atividades. O serviço gera um prejuízo de R$ 1 milhão por mês, de acordo com o superintendente Gonçalo de Abreu Barbosa. A dívida da instituição supera R$ 200 milhões. Num país onde a carência no atendimento à saúde é uma triste rotina, a declaração de Barbosa surpreende: “Mais de 30 leitos novos estão fechados para contenção de gastos”, diz ele. No interior da Bahia, 40 Santas Casas deixaram de existir nos últimos dez anos. O hospital filantrópico Santa Izabel, em Salvador, recebe do governo federal R$ 5 milhões por mês. Mas, segundo o provedor do hospital, Roberto Sá Menezes, seriam necessários R$ 8 milhões mensais para manter todos os serviços ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS). “Tiramos recursos do lucro com os planos de saúde para cobrir o buraco nos serviços públicos de cardiologia, oncologia e ortopedia”, conta.
As Santas Casas são responsáveis por 51% da assistência do SUS e chegam a atender mais de dez mil pessoas por dia. Em 999 municípios são a única alternativa da população. A instituição de São Paulo já passou por uma situação semelhante em 2011, quando o hospital ameaçou suspender o atendimento do pronto-socorro pela primeira vez. Naquela época, a dívida era de R$ 120 milhões. Hoje, supera os R$ 300 milhões. A principal queixa do setor é em relação ao financiamento do SUS. “Queremos que o governo pague o que nos custa prestar todo esse atendimento”, diz Edson Rogatti, presidente da Federação das Santas Casas. Segundo ele, a tabela do SUS não é reajustada há dez anos. O governo paulista liberou de forma emergencial R$ 3 milhões para a reabertura do posto, mas exigiu uma auditoria nas contas do hospital. Enquanto a população sofre, a situação virou uma briga política. O Ministério da Saúde acusa São Paulo de reter R$ 74 milhões enviados para a Santa Casa. A administração estadual nega e diz que o governo federal confunde e infla os números.