Fora da UTI, Santa Casa de São Paulo ainda depende de empréstimos.
13/05/2016
JAIRO MARQUES
DE SÃO PAULO
Quase dois anos após mergulhar na pior crise financeira, administrativa e de credibilidade de sua centenária história, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo saiu da UTI. A instituição está agora na unidade semi-intensiva, inspira cuidados frequentes, mas afastou, por enquanto, o risco de morte.
A avaliação é da atual diretoria do hospital, encabeçada pelo pediatra José Luiz Setúbal –acionista do banco Itaú–, que está à frente da provedoria há 11 meses. O remédio para dar sobrevida à Santa Casa tem sido dispendioso, e um tratamento mais efetivo para debelar uma dívida de R$ 868 milhões com fornecedores e credores depende de uma injeção de R$ 360 milhões oriundos do BNDES e da Caixa Econômica Federal.
O dinheiro, de acordo com José Carlos Villela, superintendente da instituição, é fundamental para dar perspectiva de futuro ao hospital.
"Conseguimos equilibrar a operação [financeira], mas não é ainda suficiente para pagar a dívida. Sem mais tempo e uma renegociação, não vamos conseguir seguir em frente. A pressão dos fornecedores é enorme."
Pleiteado há seis meses, o socorro já teve anuência técnica, mas depende de vontade política para aprovação.
"Não sou um salvador da pátria. Sair do buraco exige muitos esforços. A recuperação é lenta e gradual. Nossa parte foi feita. Seria muito triste morrer na praia. Embora tenha havido mudanças no jogo político, tenho a palavra de importantes autoridades do Estado de avalizarem o negócio", afirma Setúbal.
As garantias para conseguir o empréstimo, que deve ter carência de um ano e ser pago em dez anos, foram dadas após "faxina" interna nas contas e na maneira de gestão, que passou por uma "intensa transformação" nos últimos meses.
Para começar, 1.500 funcionários foram demitidos, sendo 184 médicos. Os acertos ainda estão sendo pagos, inclusive o 13º de 2014. Uma unidade do hospital privado Santa Isabel, na região central de SP, criado para dar suporte financeiro à Santa Casa, fechou por improdutividade, e pelo menos mais 17 unidades de saúde tocadas pela instituição foram devolvidas ao poder público.
Com isso, os atendimentos anuais irão cair de 5 milhões em 2015 para menos de 2 milhões até o final deste ano. O hospital também modernizou atos administrativos com tecnologia, diminuiu estoques em até 25% e reduziu as perdas em cobranças a planos de saúde de 22% para 6%.
Uma outra medida adotada mexe diretamente com pacientes do SUS. A instituição passou a regular cirurgias e procedimentos até o limite contratado com os governos. Além de todo o problema financeiro e de gestão que precisa enfrentar, a Santa Casa ainda necessita de fôlego para lidar com a crise que afeta sua imagem pública.
As doações de pessoas físicas e da sociedade civil despencaram 50% –de R$ 16 milhões em 2014 para R$ 8,25 milhões no ano passado. Segundo Vilela, "o fato de a Santa Casa ter frequentado as páginas policiais dos jornais e os questionamentos sobre sua antiga gestão criaram uma mácula na instituição".
O Ministério Público apura suspeitas de irregularidades do ex-provedor Kalil Rocha Abdalla na administração de imóveis da instituição e em contratos de prestação de serviços. Ele nega e diz apoiar as investigações.
Folha de São Paulo