Crescimento da população idosa no Brasil impacta prioridades em saúde pública
18/07/2016
A população brasileira tem passado nas últimas décadas por um rápido processo de envelhecimento, devendo somar, até 2025, 31,8 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Isso deverá causar impacto direto nos sistemas de saúde pública e previdenciário do país, e na forma de cuidar dessas pessoas.
A avaliação foi feita por pesquisadores durante uma mesa-redonda sobre o envelhecimento da população nos países em desenvolvimento, realizada durante a 68ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no início deste mês, no campus de Porto Seguro da Universidade Federal do Sul do Bahia (UFSB).
“Em 1950, o Brasil tinha 2 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Em 1965 esse número saltou para 6,2 milhões. Na virada do século chegou a 13,9 milhões e, em 2025, chegará a 31,8 milhões”, disse Luiz Roberto Ramos, professor da Escola Paulista de Medicina (UPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), durante o evento.
“Teremos uma das seis maiores populações de idosos no mundo em 2025”, estimou Ramos, que coordenou um projeto de pesquisa sobre a efetividade de ações de promoção da saúde em idosos com apoio da FAPESP. De acordo com o pesquisador, a velocidade do processo de envelhecimento da população brasileira tem sido mais rápida do que a verificada na Europa, por exemplo.
Mudanças nas prioridades de saúde pública
Esse aumento da proporção de idosos – que cresce a taxas muito mais elevadas do que as de outros grupos etários e tem causado o envelhecimento da população brasileira – tem mudado as prioridades na saúde pública no Brasil hoje, apontou o pesquisador.
Até 1950, quando as taxas de fecundidade e mortalidade no país eram altas, 40% das mortes no Brasil eram causadas por doenças infecciosas e pouco mais de 10% por doenças cardiovasculares.
Entre 1950 e 1970, quando começou a ocorrer o processo de transição epidemiológica no Brasil, os casos de doenças infecciosas foram diminuindo e hoje representam apenas 5% das causas de mortes no país, enquanto as doenças cardiovasculares passaram a representar mais de 40%.
“No velho paradigma da saúde pública no Brasil, a população de risco era composta por crianças, a prioridade era o tratamento de doenças infecciosas, as medidas preventivas – simbolizadas pelas vacinas – eram eficazes e os tratamentos eram simples, definitivos e baratos – era o famoso antibiótico por uma semana”, disse Ramos.
“No novo paradigma, a população de risco é formada por idosos, a prioridade é o tratamento de doenças crônicas não transmissíveis que causam incapacidade, as medidas preventivas são pouco eficazes e os tratamentos são complexos, crônicos e caros”, comparou.
O sistema de saúde brasileiro, contundo, ainda não está preparado para atender essa nova realidade, apontou o pesquisador. Um estudo realizado pelo Conselho Federal de Medicina, que acompanhou a evolução do número de médicos formados no Brasil desde 1910, apontou que, em 2010, 38% dos médicos no país eram pediatras, ginecologistas ou anestesiologistas. A geriatria era a 41ª colocada entre as especialidades dos médicos brasileiros, apontou a pesquisa.
“Há um longo caminho para dotar nosso sistema de saúde com profissionais especializados para cuidar dessa população de idosos”, avaliou.
Revista Hospitais Brasil