TECNOLOGIA E A SUSTENTABILIDADE DA SAÚDE
01/08/2016
Realizado dia 28 de junho, no auditório do Hospital Santa Catarina (SP), o Workshop Anahp - Tecnologia e a Sustentabilidade da Saúde reuniu 10 especialistas em Sustentabilidade e Tecnologia da Informação no setor Saúde para debaterem como essas duas áreas, se integradas, podem contribuir para o aumento da eficiência e qualidade do serviço hospitalar no Brasil.
Em São Paulo, para mais de 150 pessoas, o evento apresentou três painéis: Conceituação da sustentabilidade na saúde e os horizontes da tecnologia;Aplicação da tecnologia para incremento da saúde populacional; e Automação de processos em assistência à saúde.
A iniciativa da Anahp contou com a presença de renomados profissionais do setor. Lilian Correia, Gerente de Tecnologia da Informação do Hospital Samaritano de São Paulo (SP) foi responsável pela apresentação geral. Vanessa Torres, Gerente de Compliance no Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e Luciano de Oliveira, Gestor Executivo do Segmento Healthcare na TOTVS, iniciaram os trabalhos do dia. Fizeram uma introdução sobre o tema do evento no primeiro painel, apontando os horizontes da sustentabilidade e da tecnologia no futuro.
Em seguida, sob a moderação de Luis Eduardo Loureiro Bettarello, Superintendente Técnico Médico no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo (SP), foi a vez de Marco Antonio Perin, Médico Chefe da Cardiologia da Casa de Saúde Santa Marcelina (SP) e Daniel Bezerra, Coordenador da Neurologia do Hospital Pró-Cardíaco (RJ) discorreram sobre o tema do segundo painel e mostrarem aplicações da tecnologia para o incremento da saúde populacional.
O terceiro e último painel reservou espaço para a apresentação de cases de automação de quatro hospitais membrosda Anahp. Debora de Carvalho, Gerente da Farmácia do Hospital Sírio-Libanês (SP), apresentou caso de automação no processo farmacêutico; Klaiton Simão, Diretor de TI da Rede São Camilo de Hospitais (SP), falou sobre checagem à beira leito e segurança do paciente; José Afrânio Cotta Júnior, Gerente de TI do Hospital Marcio Cunha (MG), mostrou como sua instituição criou sistemas de automação das autoclaves da CME; e Lilian Quintal Hoffmann, Superintendente Executiva de Tecnologia da Informação no Hospital Beneficência Portuguesa (SP), abordou como a tecnologia influencia nos processos assistenciais. Fábio Patrus, Diretor de Gestão de Pessoas do Hospital Sírio-Libanês (SP), fez a moderação.
“Atualmente a Anahp reúne mais de 1.100 profissionais dos principais hospitais do Brasil em seus 10 Grupos de Trabalho, uma inciativa que surgiu para gerar benchmarking entre nossos membros e elevar a qualidade da Saúde do país como um todo. O workshop que veremos hoje reúne as experiências de quatro desses grupos: Sustentabilidade, Tecnologia da Informação, Organização Assistencial e Gestão de Pessoas”, disse Jadson Costa, Diretor de Mercado da Anahp durante a abertura do workshop, destacando que este foi o quinto evento organizado pela associação em 2016 para a geração de conhecimento.
Conceituação da Sustentabilidade na saúde e os horizontes da tecnologia
Ao introduzir o tema do dia, Vanessa Torres afirmou que tendemos a considerar que a tecnologia e a sustentabilidade não podem caminhar juntas. “A tecnologia não pode ser ‘desinventada’, ela é essencial para a nossa vida. No entanto, podemos sim questionar como ela é aplicada e buscar soluções, com o auxílio da própria tecnologia, para que ela seja aliada do pensamento sustentável”, argumenta.
Ela diz que até 1972, quando o assunto da sustentabilidade surgiu na Conferência de Estocolmo, a preocupação recaia sobre o padrão de consumo e o equilíbrio ambiental. Em 1987 ganhou viés social, partindo do princípio de que sem uma mudança cultural a conquista desse equilíbrio não aconteceria. Em 1997, incorporou visão a aspectos econômicos.
“Atualmente, a sustentabilidade faz parte da estratégia de governança corporativa das empresas, e muitas vezes até define os objetivos pelos quais a empresa se orienta”, completou.
Para Luciano de Oliveira, o paciente deve ser o agente desencadeador de todo o processo de saúde. “Deveríamos estar convergindo para um grande sistema de informações que tem o paciente em seu centro, mas infelizmente não é o que viemos. Algumas questões regulatórias são ainda restrições a ganhos de interação entre os diversos players do setor. Temos que ser menos conservadores para alcançarmos algo maior”, defende.
Aplicação da tecnologia para incremento da saúde populacional
Marco Antonio Perin, Médico Chefe da Cardiologia da Casa de Saúde Santa Marcelina (SP), apresentou case sobre Infarto Agudo do Miocárdio. Ele citou o programa de telemedicina - LATIN (Latin America Telemedicine Infarct Network), que conecta as unidades de saúde e ambulâncias a centros de tratamento distribuídos pela América Latina.
No caso da Rede de Saúde Santa Marcelina, no primeiro ano de implementação da tecnologia, a telemedicina reduziu de 14% para 3,4% as mortes por ataques cardíacos na Região Leste de São Paulo. Isso graças à diminuição pela metade do tempo entre o atendimento e início do tratamento de pessoas em situação de emergência, principalmente nos casos de infarto agudo do miocárdio.
A diferença no atendimento é que, por meio do sistema, a equipe da ambulância transmite os resultados de um eletrocardiograma (ECG) e outras informações necessárias a um cardiologista remoto que pode fornecer o diagnóstico mais preciso e em tempo real. Desta forma, o tratamento pré-hospitalar pode ser recomendado em um prazo de 10 minutos, antes mesmo da chegada do paciente ao hospital, e este cardiologista também fica à disposição para orientar a unidade de saúde, por telefone, no que for necessário para garantir a eficácia daquele atendimento de urgência.
“O programa de telemedicina LATIN possibilitou acesso à estratificação invasiva precoce, integrando centros secundários e terciários e tornando-se factível no sistema publico de saúde”, defende.
No Pró-Cardíaco (RJ), o case apresentado foi sobre atendimento do AVC na emergência e via telemedicina. Daniel Bezerra, Coordenador da Neurologia do hospital, explica que foi preciso aprimorar o atendimento, incorporando novos recursos, para que o hospital atingisse hoje um nível de 90% dos atendimentos antes do tempo máximo preconizado para a administração de rtPA; antes era de apenas 33%.
Segundo Daniel, alguns aspectos do Pró-Cardíaco foram fundamentais para que o paciente passasse a receber um tratamento rápido. Primeiro, contar com emergencistas treinados para a avaliação de casos suspeitos, que são orientados por telefone por um neurologista de plantão. Outro ponto foi a criação de equipes multiprofissional, que são acionadas por um alerta simultâneo por SMS (Short Message Service).
“Também criamos a Linha Expressa para proporcionar agilidade na assistência a partir do acionamento rápido da equipe multiprofissional (neurologista, psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e farmacêutico). Para uma vítima de AVC, é o tempo, entre outros fatores, o responsável pela intensidade com que as sequelas irão acometê-la”, defende.
Automação de processos em assistência à saúde
Debora de Carvalho, Gerente de Farmácia do Hospital Sírio-Libanês apresentou case sobre o impacto da automação no processo farmacêutico em sua instituição. Ela contou que o hospital realizou projeto pioneiro de automação completa de sua farmácia central. O objetivo foi garantir os atuais níveis de segurança e ao mesmo tempo aumentar a capacidade de atendimento.
A farmácia conta com sistemas de alta tecnologia compostos por dois equipamentos complementares: PillPick Automated Packaging and Dispensing System, que automaticamente dispensa medicamentos para pacientes específicos em doses unitárias, e BoxPicker Automated Pharmacy Storage System, que propicia armazenamento seguro e retirada nas embalagens originais.
“Com esta automação tivemos um ganho de produtividade de 26%. Hoje, somos em 38 colaboradores. Fizemos uma análise e descobrimos que se não houvesse sido implementada a automação teríamos de ser uma equipe de 51. O ganho de eficiência foi bastante grande”, diz.
Klaiton Simão, Diretor de Tecnologia da Informação da Rede São Camilo, exibiu caso de checagem à beira leito. “O investimento em TI é também um investimento na equipe assistencial. O profissional de enfermagem se sente mais seguro ao saber que prestando um bom atendimento e tendo ferramentas para registrar isso, ele terá garantias. A otimização do tempo da enfermagem é outro benefício”, enfatiza.
Lilian Quintal Hoffmann, Superintendente Executiva de Tecnologia da Informação no Hospital Beneficência Portuguesa (SP), abordou como a tecnologia influencia nos processos assistenciais e foi além, procurou apresentar tendências desse reflexo na Saúde.
Ela apresentou pesquisa de 2013, a Intel Global Innovation Survey, que indica que a sociedade de modo geral e global entende que a tecnologia inspira otimismo para a Saúde. Em outras palavras, que elas confiam que a tecnologia pode ser o agente catalisador de mudanças, para melhor, do sistema de Saúde.
“A tecnologia existe para privilegiar o paciente. Temos de usá-la para gerar satisfação. E satisfação é diferente de marcar bem um exame, é saber se em todo o processo, desde a marcação até a realização, ele se sentiu bem com o atendimento que nós proporcionamos”, diz.
Ela citou dados da pesquisa, como a de que 75% das pessoas estão dispostas a ver um médico por vídeo conferência ou que 84% dos respondentes aceitariam compartilhar seus dados pessoais de saúde se isso gerasse diminuição de seus custos com Saúde. “As respostas indicam que o paciente está aberto a vivenciar outros tipos de assistência e isso é muito positivo. Deve servir de estímulo para refletirmos sobre o nosso sistema e buscarmos aperfeiçoamento”, afirma.
Fonte: ANAHP