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MÉDICOS RESIDENTES DA SANTA CASA PARALISAM ATIVIDADES EM PROTESTO
24/08/2016

Um grupo de médicos residentes da área de cirurgia da Santa Casa de Misericórida de São Paulo decidiu paralisar as atividades desde a segunda-feira (22) em protesto contra a suspensão dos procedimentos cirúrgicos eletivos na unidade. De acordo com a administração do hospital, 133 residentes decidiram parar de prestar atendimento ambulatorial.

A paralisação dos funcionários acontece pouco mais de um mês após a Santa Casa suspender as cirurgias eletivas, aquelas sem necessidade de urgência, devido à crise financeira. A medida foi adotada no dia 17 de julho por conta da falta de equipamentos e de medicamentos no estoque para a realização dos procedimentos. Pacientes com câncer estão entre os enquadrados como casos não urgentes e aguardam por cirurgia.

A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo afirmou que compreende a decisão do grupo que entrou em greve, mas reitera "que sempre colocará a segurança dos pacientes como prioridade absoluta e só retomará o ritmo de realização de cirurgias eletivas quando houver todas as condições necessárias para prestar este serviço".

Segundo a instituição, o atendimento ambulatorial não foi afetado por conta da paralisação, que é parcial. A Santa Casa informou que outros 622 residentes seguem trabalhando e que os 1213 médicos do corpo clínico tampouco aderiram à greve.

A administração do hospital disse que segue na expectativa de receber um aporte financeiro extraordinário por parte do governo estadual para reestruturar sua dívida e conseguir um equilíbrio de suas contas. Para isto, a instituição também aguarda a definição de um empréstimo solicitado junto ao BNDES, a ser viabilizado pela Caixa Econômica Federal.

As cirurgias eletivas, aquelas marcadas com antecedência, continuam, portanto, restritas e sem previsão de normalização. Em média, conforme apurou o SPTV, o hospital realizava 900 procedimentos do tipo por mês.

De acordo com a Santa Casa, as cirurgias consideradas emergenciais, além dos atendimentos ambulatoriais e dos exames laboratoriais e de imagem seguem sendo realizados normalmente.

Nesta terça-feira (23), parte dos médicos residentes em greve realizava uma manifestação em frente à Santa Casa. Eles estendiam uma faixa com os dizeres "A Santa Casa está doente". Felipa Lacerda, um dos integrantes do grupo, disse que o protesto visa pressionar a administração da unidade a solucionar o problema. "Nós não conseguimos dar vazão e tratamento para esses pacientes", lamentou.

Entenda a crise


A atual crise financeira da Santa Casa começou há dois anos, quando o hospital fechou o pronto-socorro por falta de condições de atendimento. À época, o antigo provedor, Kalil Rocha Abdalla, chegou a reclamar da falta de repasse de verbas do estado e da União.

Entretanto, o Ministério Público investiga suposto desvio de recursos do caixa do hospital durante a gestão de Kalil. Segundo a denúncia, dezenas de imóveis foram comprados pela instituição e vendidos por um preço abaixo do valor da escritura.

Durante o processo, Kalil chegou a ser afastado e teve seus bens bloqueados pela Justiça Federal. Ele responde a um processo civil por improbidade administrativa. Se for condenado, o ex-provedor terá de devolver R$ 56 milhões aos caixas dos cofres públicos.

A Santa Casa também teve quase R$ 1 milhão em bens bloqueados pela Justiça por irregularidades na antiga gestão. Em abril de 2015, Kalil Rocha Abdalla renunciou. O pediatra José Luiz Setúbal assumiu o cargo com o desafio de negociar a dívida.

Para equilibrar as contas, a Santa Casa demitiu 1.500 funcionários em outubro do ano passado. A operação voltou a funcionar no azul, mas a nova administração do hospital ainda tenta quitar as dívidas que chegam a R$ 860 milhões.

O valor devido refere-se aos gastos com fornecedores, funcionários e empréstimos bancários. A Secretaria Estadual da Saúde disse que repassou R$ 360 milhões para a Santa Casa nos últimos 18 meses para ajudar o hospital a sair da crise.

O Ministério da Saúde disse que está revendo a tabela do SUS, que é a principal forma de repasse de verbas da União para hospitais filantrópicos.


Fonte: G1