UMA ONCOLOGIA DIGNA E SUSTENTÁVEL
19/07/2017
Essa é uma questão premente no tratamento do câncer nos dias atuais, sobretudo quando o que está em jogo é a capacidade financeira de ter acesso aos últimos avanços da medicina. “O preço das drogas é inviável para qualquer sociedade e não só a brasileira”, diz Rafael Kaliks, diretor científico do Instituto Oncoguia. “Ele não tem correlação com o benefício real que traz para o paciente.”
Kaliks prossegue: “Vamos dizer que uma droga nova aumente em três meses em média a vida de um paciente e vai custar 150 mil reais ao longo desse período. Quem sou eu para julgar que três meses de vida é pouco? Mas como você pode cobrar 150 mil reais de países como o Brasil para que essa pessoa viva três meses a mais?”. Segundo ele, o recurso gasto será em detrimento de outras questões e aspectos necessários para a sociedade, independentemente de ser SUS ou saúde suplementar.
Terapias-alvo (drogas que atingem locais precisos no tumor) e imunoterapia (que instiga o sistema imune do paciente a combater células cancerosas) são as novas tendências do tratamento oncológico e vão prevalecer nas próximas décadas. “A imunoterapia, por exemplo, já se provou melhor do que tratamentos tradicionais para melanoma, câncer de rim, câncer de pulmão, câncer de cabeça e pescoço, alguns linfomas e está em vias de ser aprovada para câncer de bexiga”, enumera Kaliks. É bem menos agressiva do que uma químio, mas não está isenta de efeitos colaterais, como inflamações. Todos esses tratamentos são caros. Segundo Kaliks, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vem aprovando dentro do possível novas indicações para a imunoterapia e para as terapias-alvo. Já a Agência Nacional de Saúde tem uma visão mais restritiva. “Ela acredita que, se aprovar tudo, vai quebrar os convênios, o que certamente é verdade”, diz ele. Já a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS é lenta em dar aval. “Até hoje a Conitec aprovou três ou quatro terapias-alvo e, por enquanto, nenhuma imunoterapia moderna”, revela o oncologista.
Para solucionar a questão, o Instituto Oncoguia propõe o modelo de risk sharing(compartilhamento de risco), ou seja, os três, quatro primeiros meses do tratamento com uma nova droga seriam pagos pelo laboratório. “Se o paciente se beneficiar nitidamente, a partir daí o governo ou o convênio pagariam por ela”, explica Kaliks. “A gente acabaria só pagando por aqueles pacientes que de fato se beneficiam com o medicamento.” Países como a Itália já adotam esse sistema.
Fonte: Jornal Estadão