O NOVO DESAFIO DO SUS
18/08/2017
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi um dos maiores avanços consagrados pela Constituição de 1988. Visando à garantia de acesso ao atendimento de saúde integral para todos os brasileiros – do mais simples procedimento ambulatorial a complexas cirurgias, como os transplantes de órgãos –, a Carta Magna organizou toda a rede nacional de saúde, hierarquizada e descentralizada, em um sistema único, com responsáveis em cada esfera de governo.
Quase três décadas após o seu advento, o SUS, que já nasceu ambicioso ao preconizar a universalização do acesso aos serviços públicos de saúde, é considerado um modelo para iniciativas correspondentes em outros países. Mas isso não oculta algumas falhas próprias do sistema único com o financiamento do atendimento e, principalmente, a remuneração dos serviços prestados.
Além de superar esses problemas, a saúde pública enfrenta outro desafio, ainda mais arrojado: a democratização do acesso à medicina preventiva, sobretudo em um momento de crise econômica, circunstância que determina severas restrições ao poder público no manejo dos escassos recursos.
Esta e outras importantes questões da área, como a sustentabilidade dos modelos de saúde complementar, a medicina do amanhã e a judicialização da saúde, foram discutidas por alguns dos maiores especialistas do setor, reunidos no Summit Saúde Brasil 2017, promovido pelo Estado pelo segundo ano consecutivo.
No discurso que abriu o evento, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, anunciou que até o final do ano que vem todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) estarão informatizadas. Trata-se de uma importante melhoria no serviço prestado ao cidadão, que passará a ter seu histórico de saúde registrado em um prontuário eletrônico, que, além de agilizar o atendimento, de fato, unifica a base de dados do paciente, tornando-a rapidamente acessível aos médicos de quaisquer unidades de atendimento que o cidadão procurar.
Jack Kreindler, fundador do Centre For Health and Human Performance, de Londres, um dos maiores especialistas no uso dos conceitos da medicina esportiva para o desenvolvimento de soluções para graves doenças crônicas, alertou para a necessidade cada vez mais premente de investir em um sistema de saúde que democratize o acesso a tecnologias hoje disponíveis. Dispositivos para monitoramento de pacientes crônicos criados pelo centro britânico, em parceria com empresas norte-americanas, já permitem prever complicações – como um infarto, por exemplo – com até cinco dias de antecedência. “Dez anos atrás, uma tecnologia deste tipo custaria milhares de dólares por paciente, mas hoje custa muito pouco”, disse.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o déficit anual com os procedimentos de média e alta complexidades oferecidos pelo SUS – como os adotados para o tratamento de infarto ou AVC – é de aproximadamente R$ 3 bilhões. Além disso, há um alto gasto rotineiro com o tratamento de pacientes acometidos por doenças crônicas.
Da forma como funciona atualmente, o sistema de saúde brasileiro dá prioridade ao tratamento da doença, e não do paciente. Este modelo de saúde pública representa enorme custo para o Estado, que poderia destinar mais recursos para outras áreas essenciais, como segurança e educação, por exemplo, caso houvesse maior investimento em prevenção, por mais que no momento inicial o valor investido em novas tecnologias de atendimento tenda a ser elevado.
Mas, para além de sua dimensão estritamente econômica, considerando a redução dos gastos sociais do Estado com a saúde pública, a medicina preventiva tem ainda um importante caráter humanitário ao promover a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. O indivíduo ganha ao ter acesso a um serviço de saúde que lhe permite viver mais e melhor. E a sociedade como um todo ganha ao ver maior eficiência no emprego dos recursos públicos na melhoria dos serviços prestados pelo Estado.
Fonte: O Estado de S.Paulo