ESTUDO APONTA INCONSISTÊNCIA NA MEDIÇÃO DE CUSTOS DA SAÚDE
09/10/2017
Há imprecisão em conceitos como “inflação médica” e “custos da saúde”, o que dificulta a compreensão da responsabilidade de todos elos da cadeia. Esta é umas das principais conclusões de “Custos da Saúde – fatos e interpretações”, estudo realizado pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) em parceria com a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (INTERFARMA).
O documento, lançado na segunda-feira (2), tem o objetivo de contribuir com a discussão acerca dos custos do setor ao detalhar o papel de cada ente, além de esmiuçar um dos principais equívocos no debate público: inflação médica não é o mesmo que custos da saúde.
O primeiro conceito se refere à variação média de preços de uma cesta de bens e serviços e não abrange a frequência do uso. Já os custos de saúde consideram não apenas a variação de preços como também a variação da quantidade consumida. Ou seja, é possível ter um aumento de custos mesmo com preços constantes, pois ele reflete o crescimento da utilização de produtos e serviços de saúde.
Outro fator explicado é de que a Variação de Custos Médico-hospitalares – VCMH não deveria ser sinônimo de inflação médica. Na verdade, o VCMH, conforme medido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), analisa uma amostra de planos individuais que corresponde apenas a cerca de 2% dos planos de saúde brasileiros. Este índice não considera, por exemplo, as variações de custos em contratos coletivos, que são a grande maioria (80%) dos planos e seguros de saúde.
“O estudo tem o objetivo de ajudar a compreender melhor os custos da cadeia de saúde como um todo e colaborar com um debate mais transparente. Precisamos entender o sistema como um todo e promover um sistema mais eficiente e sustentável”, analisa Francisco Balestrin, presidente do Conselho da Anahp. “Temos grandes desafios como o envelhecimento da população e o aumento da incidência de doenças crônicas. Para enfrentá-los são necessárias estratégias de prevenção e a gestão eficiente do paciente, além dos muros do hospital”, completa.
Outro ponto detalhado no documento é sobre a participação dos medicamentos na composição dos custos da saúde. De acordo com dados da INTERFARMA, a premissa de que os medicamentos seriam responsáveis pelo aumento dos custos da saúde não é verdadeira, pois o mercado farmacêutico institucional (hospitais e clínicas privadas) movimentou R$ 5,3 bilho?es em 2016, o que representou só 3,3% do total das receitas de contraprestações dos planos de saúde.
“Há uma evidente crise no sistema por meio do qual os diversos segmentos da saúde se remuneram. O formato atual está esgotado e para sairmos dele precisamos dialogar e agir como cadeia, em vez de simplesmente atribuir a culpa aos outros ou pensar em buscar soluções que sirvam apenas a um dos segmentos”, afirma Antônio Britto, presidente-executivo da INTERFARMA.
Nesse sentido, “Custos da Saúde – fatos e interpretações” sugere medidas para todos os elos da cadeia. Para as operadoras e seguradoras de saúde, por exemplo, uma das recomendações é o investimento constante na gestão da carteira de beneficiários, o que incluem ações de prevenção e monitoramento constante dos crônicos; além de orientação adequada quanto ao uso do plano de saúde. Outra medida sugerida pelo estudo é que a indústria de saúde não deixe de oferecer tecnologias que comprovadamente melhoram os resultados clínicos de pacientes. Porém, é preciso uma análise do custo-benefício adequado.
Por trás dos índices
O estudo também esclarece de forma didática algumas medidas e índices utilizados no setor. Veja abaixo:
O VCMH (Variação de Custos Médico-hospitalares) mede a “inflação da saúde”?
Não. Inflação é uma medida de variação de preços, enquanto o VCMH é uma medida de variação de custos, ou seja, além de preços o VCMH leva em consideração a variação da frequência do uso do plano de saúde.
O que é o IPCA? É verdade que a inflação da saúde supera esse índice?
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é a medida oficial de inflação do País. Nos últimos 5 anos, enquanto o IPCA subiu 38,8%, os preços dos bens e serviços do grupo Saúde e cuidados pessoais subiram, em média, 47,8%, ou seja, a inflação da saúde superou o índice em questão. Entre os subitens que compõem o grupo, o plano de saúde foi um dos que registraram a maior alta de preços (67,9%). Entretanto, o aumento médio dos preços do setor de saúde é inferior ao reajuste máximo dos planos de saúde, autorizado pela ANS.
Fonte: Portal Revista do Brasil