DAVID UIP DEIXA SECRETARIA DE SAÚDE E EX-REITOR DA USP DEVE SER NOVO TITULAR
17/04/2018
O secretário de Saúde de São Paulo, David Uip, está deixando o cargo. Ele se reuniu na manhã desta segunda-feira (16) com o governador Márcio França, que comunicou a ele que gostaria de nomear o ex-reitor da USP Marco Antonio Zago para a pasta.
“Eu volto para a universidade, serei reitor da Universidade do ABC”, disse Uip à coluna.
Em uma carta distribuída a amigos por WhatsApp, ele afirma que “foi uma honra servir o meu Estado e poder ter contribuído para o aprimoramento das políticas públicas de saúde, fortalecimento da assistência e expansão dos serviços oferecidos à população de nosso estado”.
O médico ficou quatro anos e sete meses no cargo.
Leia na íntegra a carta que Uip enviou aos amigos:
Amigos,
minha trajetória profissional tem sido marcada por grandes desafios, que me movem e motivam.
Talvez o principal deles, até aqui, tenha sido comandar, ao longo dos últimos quatro anos e sete meses, a maior secretaria de Saúde do Brasil.
O Sistema Único de Saúde completa, em 2018, 30 anos desde sua concepção, e é, sem dúvida, um dos maiores projetos sociais já implantados em todo o mundo.
Foi uma honra servir ao meu Estado e poder ter contribuído para o aprimoramento das políticas públicas de saúde, fortalecimento da assistência e expansão dos serviços oferecidos à população de nosso estado.
Isso não seria possível sem a participação ativa, incansável e absolutamente comprometida dos servidores, funcionários indiretos, coordenadores, diretores, assessores, parceiros, enfim, de todos aqueles que integram o time da SES-SP, em seus diferentes níveis, bem como a imprescindível colaboração dos municípios paulistas.
O SUS é complexo, dinâmico e ainda trilha o caminho de sua efetiva consolidação.
O Estado de São Paulo contribui de forma expressiva para isso, realizando 40% do atendimento de media e alta complexidade, 40% de todos os transplantes de órgãos e mais de 30% das ressonâncias magnéticas e tomografias computadorizadas da rede pública brasileira. Em média, quase três pacientes de outros estados são internados por hora em hospitais do SUS paulista. Por dia são 10,7 mil atendimentos ambulatoriais para pacientes que residem fora de São Paulo, segundo os registros oficiais do DataSUS.
Apesar dos inúmeros desafios que a saúde ainda precisa superar, posso dizer que avançamos, a despeito do Brasil ter vivido uma das mais graves crises financeiro-econômicas da sua história. Durante o período, São Paulo deixou de arrecadar 22 bilhões de reais.
O saldo, desde setembro de 2013, quando assumi o cargo de secretário, a convite do governador Geraldo Alckmin, é de 13 novos hospitais estaduais entregues à população paulista e 9 novos AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades). Quarenta AMEs passaram a funcionar como “AMEs Mais”, oferecendo, além de consultas com especialistas e exames de apoio diagnóstico, cirurgias de média complexidade.
Obras de reforma e ampliação vêm propiciando a modernização de hospitais de referência, como o Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, do Instituto Emílio Ribas e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Ao todo, as obras de construção, reforma e ampliações de unidades de saúde geraram nesses quatro anos e sete meses mais de 30 mil novos empregos. Até o final de 2018, dois outros hospitais serão entregues a população de São Paulo – Serrana e Bebedouro.
A Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer foi consolidada, passando a integrar 76 unidades de saúde conectadas à regulação estadual (Cross), com novos serviços de radioterapia entregues em Araçatuba, Mogi das Cruzes, Santos, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Guarulhos, além da capital paulista.
O Programa Recomeço, de combate à dependência química, multiplicou por seis o número de leitos para tratamento de casos graves e agudos, oferecendo inequívoca ajuda aos usuários de crack, álcool e outras drogas que antes não tinham a quem recorrer.
Uma parceria inédita da Secretaria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) levantou recursos da ordem de R$ 826 milhões para a realização de obras de construção ou reforma de 164 unidades de saúde em cinco regiões do Estado, com benefícios a 71 municípios, incluindo dois novos hospitais regionais, um em Registro e outro em Caraguatatuba.
A PPP da Saúde, também inédita no Estado, permitiu a entrega em tempo recorde de dois novos hospitais regionais, em Sorocaba e em São José dos Campos, em um novo modelo de gestão que alia experiência administrativa e assistencial. No mesmo sistema, serão iniciadas as obras do Grande Hospital da Mulher, na Nova Luz, no centro da cidade de São Paulo.
O Estado de São Paulo, desde 2013, ampliou substancialmente o auxílio financeiro às santas casas e hospitais filantrópicos, por meio de um programa de repasses extra-SUS que visa combater o subfinanciamento federal da saúde e, permitir, desta forma, que essas instituições ganhem fôlego necessário para atender à população.
Ao mesmo tempo, não descuidamos da prevenção e promoção da Saúde. Com o programa “Mulheres de Peito”, quatro carretas itinerantes percorrem desde 2014 os quatro cantos do Estado de São Paulo oferecendo, gratuitamente e sem necessidade de pedido médico, mamografias, ultrassons e biópsias para rastrear o câncer de mama em mulheres e encaminhar os casos suspeitos para acompanhamento e tratamento nos serviços de referência. Adicionalmente, a Secretaria oferta um 0800 que agenda mamografias, também sem necessidade de pedido médico, no mês de aniversário das mulheres, em um dos 200 serviços com mamógrafo no SUS de São Paulo.
Para os homens foi implantado o programa “Filho que AMA leva o Pai ao AME”. Vinte e cinco AMEs oferecem, aos sábados, consultas e exames preventivos nas áreas de cardiologia e urologia, que podem ser marcados por uma central telefônica.
Em 2017 a mortalidade infantil atingiu no Estado de São Paulo seu menor nível, com 10,57 óbitos de crianças menores de um ano a cada mil nascidas vivas, segundo dados preliminares da Fundação Seade. Também no ano passado São Paulo obteve recorde histórico do número de doadores de órgãos, com 1.014 doações.
Por meio do programa raio-x, o Estado está passando um pente-fino nos hospitais públicos, escolhidos por sorteio, para verificar como está sendo aplicado cada centavo e como os custos são controlados, por setor. Desde 2015 funciona na Secretaria da Saúde um Núcleo de Controladoria cujo objetivo é combater o desperdício e a má gestão, além de atuar para coibir fraudes. A centralização das compras de próteses, adotada em 2016, permitiu que o governo reduzisse pela metade os valores gastos com a aquisição dos materiais, utilizados em cirurgias. Além disso, uma parceria com o Ministério Público e a maior aproximação com juízes e desembargadores têm ajudado a reduzir o gasto com a chamada “judicialização” da Saúde, evitando condenações a partir do fornecimento ao Judiciário, pelo gestor estadual, de informações sobre as opções terapêuticas disponíveis no SUS. Em 2017 houve queda de 16% no número de condenações judiciais contra a SES-SP.
Não poderia deixar de destacar o consistente trabalho de combate às arboviroses, por meio de um programa inédito de pagamento de diárias extras aos agentes municipais, que permitiu ampliar o número de visitas casa a casa, inclusive aos finais de semana, para identificação e remoção do Aedes aegypti, fazendo com que o número de casos de dengue no Estado despencasse 99% entre 2015 e 2017. A fábrica de vacinas contra a dengue do Instituto Butantan está em fase final de obras e, com o avanço dos testes clínicos em humanos, também em sua última etapa com 17 mil voluntários, o Brasil ganhará uma vacina segura e eficaz para imunizar sua população.
Adicionalmente, devo mencionar o esforço heroico das áreas de controle de doenças e de endemias que, por meio da identificação dos corredores ecológicos, monitorou a circulação e avanço do vírus da febre amarela pelo Estado de São Paulo, possibilitando a adoção de medidas preventivas como a intensificação da imunização dos paulistas em diferentes regiões, com mais de 14 milhões de doses aplicadas entre 2017 e os três meses iniciais de 2018, o dobro em relação ao período entre os anos de 2007 e 2016.
Agradeço a todos os servidores da Secretaria de Estado da Saúde, desde os que ocupam cargos de comando até aos que lidam, na ponta, com a assistência aos cidadãos. Aos diretores de hospitais, ambulatórios, centros de referência, institutos, fundações, autarquias e Organizações Sociais de Saúde. Aos diretores regionais, coordenadores e assessores. Aos amigos do Conselho Estadual de Saúde, Conselho dos Secretários Municipais de Saúde, Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, Conselho Nacional dos Secretários de Saúde e Conselho Superior de Gestão em Saúde, composto de inseparáveis amigos. Meu muito obrigado aos parlamentares e a todos os profissionais da imprensa.
Por fim, o meu muito obrigado ao nosso querido Governador Geraldo Alckmin – sempre estaremos juntos e a todos os seus assessores, aos meus amigos Secretários de Estado e a minha iluminada família, solidária e paciente a despeito da constante ausência
Deixo a Secretaria, mas não abandono as boas causas. Continuo à disposição para contribuir com o avanço das políticas públicas de saúde, em São Paulo e no Brasil. Principalmente àquele que for escolhido para me suceder – poderá contar comigo no que entender necessário. A área demanda um constante equilíbrio entre a austeridade na gestão da coisa pública e a pretensão humana de eliminar a dor e o sofrimento dos assistidos. Desejo-lhe sabedoria e boa sorte. Agora, retomo a vida acadêmica, como diretor-geral da Faculdade de Medicina do ABC, onde me formei, e continuarei atendendo aos meus pacientes. Cuidar de gente é o que sei e gosto de fazer. Vocês me ajudaram muito.
Muito obrigado, e até breve.
Por – 16/04/2018 – Mônica Bergamo
Fonte: Folha de São Paulo