SANTA CASA DE SÃO JOSÉ ATINGE MARCA DE 500 TRANSPLANTES DE FÍGADO COM TAXA DE SOBREVIDA DE 91%
11/02/2025
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Cada doação de órgão é uma chance de reescrever histórias de vida e renovar a esperança. Amanhã (12/02), a partir das 19h, a Santa Casa de São José dos Campos – referência em transplante de fígado na região do Vale do Paraíba – celebrará a história de 500 pessoas que, ao longo de 16 anos do serviço na instituição, receberam o órgão e, com ele, uma chance de recomeço. O evento, que homenageará pacientes e equipe médica, acontecerá no Auditório Humanitas, da Faculdade de Ciências Médicas de São José dos Campos.
Em volume de transplantes, a Santa Casa de São José dos Campos está em 4º lugar no Estado, sendo o único hospital do interior que faz procedimento intervivo (técnica na qual uma parte do fígado de uma pessoa saudável é retirada e colocada no receptor que possui doença hepática grave) e transplante duplo (de fígado e rim). A taxa de sobrevida dos transplantes na instituição, em 2024, foi de 91%. No interior, foi de 71% e, no Estado,77%.
A ocasião frisará a importância da doação de órgãos, ato que pode ajudar a salvar até oito vidas, mas que encontra resistência de muitas famílias com a recusa.
O gesto de amor e solidariedade de uma família foi o que transformou a vida de Antônio Catigero da Silva, 63 anos, morador de Pindamonhangaba, o 500º transplantado da Santa Casa. O procedimento hepático aconteceu em 9 de janeiro, após sete meses na fila de espera pelo fígado.
Antonio trabalhava como segurança noturno e, para conseguir dormir durante o dia, fazia uso de medicamento. O excesso ocasionou uma cirrose hepática, o que desencadeou a necessidade do transplante.
A preocupação e a tristeza tomavam conta de Antonio quando um telefonema mudou tudo. “Minha esposa e eu estávamos muito tristes e preocupados. Quando me ligaram avisando que tinha um doador compatível, fiquei muito emocionado. Deus ajudou que deu tudo certo”, conta ele que, agora, se recupera do procedimento, já fazendo diversos planos. “Quero voltar a ter uma vida normal, sadia, poder caminhar, seguir a vida que eu sempre gostei”.
O começo de tudo
Era maio de 2009 quando a angústia pela espera teve fim para o representante comercial Lino Francisco Faccina, 63 anos, de Atibaia, o primeiro transplantado da Santa Casa de São José dos Campos. Sofrendo de câncer de fígado, em decorrência de uma hepatite C, Faccina esperou a doação do órgão por 79 dias. Foi então que à 1h da manhã, recebeu um telefonema com a tão desejada notícia. “O médico disse que estava saindo para fazer captação do órgão e que eu deveria ir até a Santa Casa. Foi uma sensação indescritível”, recorda.
Quase 16 anos depois, ele conta a transformação que o transplante resultou em sua vida. “Vivo maravilhosamente bem, mais saudável, melhorou tudo em todos os aspectos. Agradeço a todos os profissionais que fazem esse milagre da vida. Muito obrigado por tudo”.
Conscientização
O Brasil é referência em transplante de órgãos e possui o maior programa público do procedimento no mundo — cerca de 90% das cirurgias é feita no Sistema Único de Saúde (SUS). A doação de órgãos é essencial nesse processo, porém, a cada 14 pessoas que manifestam interesse em doar, apenas quatro acabam, de fato, efetuando a doação. O principal motivo é a resistência das famílias. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, 42% das doações não se concretizam devido à negativa dos familiares.
Em média, cerca de 3.000 pessoas morrem por ano enquanto aguardam o transplante. Só no primeiro semestre de 2024, foram registradas, no país,1.793 mortes, sendo 46 crianças.
Na Santa Casa de São José dos Campos, 48 pessoas esperam pelo transplante de fígado. No país, a maior parte das pessoas aguardam por rim (35.695), seguido de córnea (26.409) e fígado (1.412). Entre as crianças, lideram córnea (749), rim (396) e fígado (75).
A taxa média de espera por um órgão no Brasil é de 18 meses, mas o tempo varia de acordo com o tipo de transplante, as condições clínicas do paciente e o volume de doadores.
“A dor da perda de um ente querido é um peso que ninguém pode medir, mas o gesto de generosidade da doação de órgãos permite que o amor e o legado de quem partiu sigam vivos, tocando e salvando vidas, um ato que transcende a dor e se torna sinônimo de vida”, fala o provedor da Santa Casa de São José dos Campos, Ivã Molina. “Conscientizar a sociedade sobre a importância da doação é essencial, pois cada gesto de solidariedade tem o poder de oferecer um recomeço a quem mais precisa, transformando a perda em um ato de renovada esperança”, completa.
No serviço de transplante, a Santa Casa de São José dos Campos destaca-se não apenas no Vale do Paraíba, mas em âmbito estadual. Em 2020, ano em que se iniciava a pandemia da Covid-19 e os transplantes registraram queda à nível nacional, a instituição levou a cidade joseense a ser a primeira do interior paulista com o maior número de procedimentos realizados naquele ano (51 transplantes) e a terceira em todo o Estado, de acordo com o Sistema Estadual de Transplantes, da Secretaria de Estado da Saúde.
“Agora, começando 2025, é uma honra para nós da Santa Casa de São José dos Campos celebrar a marca de 500 transplantes realizados, um reflexo do comprometimento e dedicação de nossa equipe, que trabalha incansavelmente para oferecer uma nova chance a cada paciente”, pontua Molina. “Este marco é apenas o começo de um trabalho que continuará a crescer, ampliando cada vez mais nossa capacidade de salvar vidas. Estamos empenhados em superar desafios, investir em tecnologias e formar parcerias, para que, cada vez mais, possamos oferecer esperança e recomeços a quem precisa”, conclui.
Como funciona a doação no Brasil?
A doação de órgãos após a morte depende da decisão da família do falecido, conforme a Lei 9.434/1997 e o Decreto 9.175/2017. Embora a pessoa possa manifestar sua vontade de doar, por meio da Autorização Eletrônica de Doação (Aedo), criada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2023, a decisão final sobre a doação ainda é da família. Mesmo que o doador tenha registrado sua intenção, a recusa familiar permanece um obstáculo significativo.
Essa realidade tem levado à discussão de novos modelos de consentimento, como a proposta de que a autorização formal do doador em vida seja suficiente para a doação dos órgãos, independentemente do parecer familiar. O projeto de revisão do Código Civil e o Decreto 10.977/2022, que permite incluir a disposição de doação na identidade, também sugerem alternativas para tornar a decisão do doador vinculante. Outra possibilidade é a criação de incentivos, como a prioridade, na lista de espera de transplantes, às pessoas com parentes de primeiro grau que tenham doado órgãos após a morte. Essa medida foi adotada por Israel e resultou no aumento nos índices de autorização familiar.
“Seja qual for o modelo, precisa ser acompanhado de esclarecimento e conscientização sobre a doação, para que a decisão seja tomada com entendimento, respeito e a certeza do impacto transformador desse gesto que salva vidas e mantém viva a memória de quem partiu”, conclui o provedor.
Aumento no número de transplantes
A Santa Casa de São José dos Campos registrou um aumento no número de transplantes de fígado no último ano. Em 2023, foram realizados 35 transplantes, enquanto em 2024 o número subiu para 41. No estado de São Paulo, foram 649 procedimentos realizados no ano passado. Ou seja, 6,32% de todos os transplantes de fígados do estado são feitos na Santa Casa.
Serviço
Data: Quarta-feira (12/02)
Horário: 19h
Local: Auditório Humanitas – Faculdade de Ciências Médicas de São José dos Campos (Av. Isaur de Pinho Nogueira, nº 5.900 – Vila Tatetuba)
Folha de São Paulo