Brasil passa por epidemia de cesarianas, dizem especialistas
Em debate na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) nesta quarta-feira (2), estudiosos da área de saúde chamaram atenção para o elevado número de cesarianas no país, que definiram como “epidemia”, e apontaram o impacto desses procedimentos na mortalidade infantil e na mortalidade materna.
O Brasil é o país com maior taxa de cesáreas do mundo: 84% de nascimentos da rede privada acontecem por esse método e 40% na rede pública, enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda apenas 15%, ou seja, nos casos estritamente necessários.
Para a coordenadora da saúde das mulheres do Ministério da Saúde, Maria Esther Vilela, a cesariana tem se mostrado desnecessária e prejudicial à saúde de muitas gestantes. Ela considera que existe um modelo violento de assistência à saúde, que banaliza a intervenção cirúrgica e comercializa o nascimento.
— Nós temos também a banalização da cesariana, como se a cesariana não tivesse risco nenhum. E temos riscos imediatos da cesariana, é mais arriscada e temos riscos futuros — afirmou.
Para combater os casos de violência obstétrica no país, os palestrantes na CDH argumentam que é preciso promover a saúde infantil e materna, garantir os direitos reprodutivos da mulher e alterar as práticas na saúde privada e pública.
Violência obstétrica
A senadora Ângela Portela (PT-RR), que solicitou a audiência pública, argumenta que ainda é preciso avançar no combate à violência obstétrica no país.
— Precisamos avançar muito nas políticas voltadas para combater esse tipo de violência: apresentar propostas viáveis, destinar recursos no orçamento para que os estados e os municípios possam implementar essas políticas tão importantes para combater a violência obstétrica — disse a senadora.
A violência obstétrica nas unidades de saúde vai desde a imposição médica na hora do parto até o tratamento desrespeitoso dos profissionais de saúde contra a mulher e a criança. Pesquisa da Fundação Perseu Abramo revela que uma em cada quatro brasileiras sofreu algum tipo de violência durante o parto.