Dia da Saúde e Nutrição
Ao longo de anos, a saúde física e mental das pessoas tem refletido as consequências de padrões alimentares, dando sentido à expressão segundo a qual “Você é reflexo do que come”. Isso por que, a relação alimento e saúde é estabelecida há muito tempo, fazendo com que sejamos diariamente bombardeados por um número incontável de informações sobre o que é saudável ou não.
A médica endocrinologista Mari Cançado (CRM 72.924) justifica esta associação, lembrando que os hábitos alimentares contribuem decisivamente para o aparecimento de diversas patologias, podendo inclusive diminuir ou aumentar a longevidade.
“Não há dúvida que erros alimentares podem levar a vários graus de obesidade, contribuir para o aparecimento de diabetes, dislipidemias, elevação da pressão arterial, aumento de ácido úrico, deficiências de nutrientes e aumentar a probabilidade de aparecimento de tumores malignos, entre outras diversas consequências”, revela a médica.
Segundo ela, apesar dessa relação parecer simples, ela é muito complexa, pois o processo não depende só do alimento ingerido, mas de fatores associados também ao preparo, aos contaminantes, associações, quantidade e frequência da ingestão de alimentos. “Importante considerar também as características únicas de cada indivíduo, a exemplo da genética, idade, sexo, microbiota intestinal, ambiente e nível de estresse”, esclarece.
Mari explica que a alimentação não diz respeito apenas à ingestão de nutrientes mas também aos alimentos, que contêm e fornecem os nutrientes, e como esses alimentos são combinados entre si e preparados. “O modo de comer e as dimensões culturais e sociais das práticas alimentares também influenciam a saúde e o bem-estar”, alerta.
Ela revela que o efeito de nutrientes individuais foi se mostrando progressivamente insuficiente para explicar a relação entre alimentação e saúde. “Vários estudos mostram, por exemplo, que a proteção conferida por algumas frutas, legumes e verduras contra doenças do coração e certos tipos de câncer não se repete com intervenções baseadas no fornecimento de medicamentos ou suplementos que contêm os nutrientes individuais presentes naqueles alimentos”, revela a endocrinologista.
Esses estudos indicam que o efeito benéfico sobre a prevenção de doenças advém do alimento em si e das combinações de nutrientes e outros compostos químicos que fazem parte da matriz do alimento, mais do que de nutrientes isolados.
Outros estudos revelam que os efeitos positivos sobre a saúde de padrões tradicionais de alimentação, como a chamada “dieta mediterrânea”, devem ser atribuídos menos a alimentos individuais e mais ao conjunto de alimentos que integram aqueles padrões e à forma como são preparados e consumidos.
Há igualmente evidências de que circunstâncias que envolvem o consumo de alimentos – por exemplo, comer sozinho, sentado no sofá e diante da televisão ou compartilhar uma refeição, sentado à mesa com familiares ou amigos – são importantes para determinar quais serão consumidos e em qual quantidade.
Finalmente, alimentos específicos, preparações culinárias que resultam da combinação e preparo desses alimentos e modos de comer particulares constituem parte importante da cultura de uma sociedade e, como tal, estão fortemente relacionados com a identidade e o sentimento de pertencimento social das pessoas, com a sensação de autonomia, com o prazer propiciado pela alimentação e, consequentemente, com o seu estado de bem-estar.
Problema afeta jovens e crianças
Os padrões de alimentação estão mudando rapidamente na grande maioria dos países e, em particular, naqueles economicamente emergentes. As principais mudanças envolvem a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados de origem vegetal (arroz, feijão, mandioca, batata, legumes e verduras) por produtos industrializados, prontos para consumo.
Essas transformações, observadas com grande intensidade no Brasil, determinam, entre outras consequências, o desequilíbrio na oferta de nutrientes e a ingestão excessiva de calorias, levando à evolução doenças crônicas como a hipertensão, doenças do coração e certos tipos de câncer.
“Inicialmente apresentados como doenças de pessoas com idade mais avançada, muitos desses problemas atingem agora adultos jovens e mesmo adolescentes e crianças”, alerta a endocrinologista Mari Cançado.
Alimentos e sensações caminham juntos
A médica endocrinologista Mari Cançado lembra que, para os seres humanos, alimentos e sensações caminham juntos. Essa ligação começa quando o bebê nasce; pois, ao ser amamentado, ele não apenas é nutrido, mas sente prazer.
Segundo ela, a explicação para esse envolvimento das emoções é científica, uma vez que a química dos alimentos é capaz de alterar a produção de neurotransmissores – substâncias que transmitem impulsos nervosos no cérebro e são responsáveis pelas sensações.
“Por isso, a máxima de que ‘você é o que come’ se aplica também ao bom humor”, conclui Mari. Isso por que há uma série de alimentos que podem contribuir para melhorar o ânimo por estimularem a produção dos neurotransmissores responsáveis pelo prazer, bem-estar e euforia, a exemplo da serotonina, dopamina, noradrenalina e acetilcolina, cuja produção pode ser aumentada com o consumo de alimentos ricos em triptofano (um aminoácido) e carboidratos.
“É por isso que quando alguém está chateado e come um doce tem a sensação de que melhorou”, explica Mari. Ela lembra que, na Inglaterra, o estudo Food and Mood Project (Projeto Comida e Humor) revelou que mudanças no que comemos podem ser positivas para a saúde mental.
Cerca de 200 pessoas fizeram uma dieta recomendada e avaliaram o impacto da mudança nutricional no seu humor. A experiência mostrou que 26% tiveram uma melhora na instabilidade emocional, 24% na depressão e 26% em ataques de pânico e ansiedade. Os indivíduos estudados diminuíram o consumo de açúcar, cafeína, álcool e chocolate e aumentaram o de frutas, peixes e líquidos.
Mudar hábitos é a dica para manter a saúde em equilíbrio
Diante da importância da alimentação para o bem estar geral das pessoas, nada mais adequado que um programa comprometido com o sucesso do tratamento, estabelecido por meio da reeducação alimentar para recuperar ou manter o estado nutricional, de forma a auxiliar no controle e na prevenção de doenças crônicas.
Com esta proposta, o plano Santa Casa Saúde oferece atendimento nutricional a seus beneficiários no Saúde Inteligente (SI). Os atendimentos são ambulatoriais e feitos por nutricionistas mediante encaminhamento médico. “A proposta é colocada em prática por meio do programa Saúde em Equilíbrio, criado para analisar os casos individualmente e oferecer estratégias para que o paciente consiga seguir o plano de tratamento, respeitando-se suas individualidades, preferências, hábitos e condição socioeconômica”, disse o médico Ruy Nogueira Costa Filho, superintendente do Santa Casa Saúde.
Segundo ele, o programa é coordenado por um grupo clínico que, a princípio, tem como foco a redução de peso, visando sempre hábitos de vida saudáveis. “O grupo é composto por profissionais médicos, enfermeiras, nutricionistas, psicólogos, educadoras físicas e assistentes sociais, proporcionando interação e troca de experiências entre os participantes e a equipe multidisciplinar”, revela Ruy Nogueira.
Os encontros, individuais ou em grupo, são realizados no formato de palestras, dinâmicas e oficinas para aprofundar temas relacionados à alimentação saudável, fracionamento e balanceamento da dieta; transtornos alimentares; alimentos funcionais; importância da água e chá verde; alimentos diet, light e zero; e dieta detox, que ajuda o organismo a se livrar das toxinas e enxugar as gordurinhas.
Ele lembra que, em todos os encontros, os participantes recebem sugestões de receitas saudáveis para que o processo de reeducação alimentar seja contínuo. Uma das oficinas do programa é a visita a supermercados supervisionada por nutricionista, que aborda in locu a importância da leitura de rótulos dos produtos e ajuda a identificar alimentos que promovem redução ou a manutenção do peso saudável.
“Essas visitas têm duração de uma hora e, segundo relatos dos próprios participantes, estão entre as ações de maior resultado prático, pois permite avaliar e entender a eficácia ou não do produto no momento da compra. Os resultados são mensurados a cada quatro meses, quando grupo passa pelo teste de bioimpedância elétrica para análise de possíveis mudanças na composição corporal de cada um.