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Demissões e repasse insuficiente prejudicam Santas Casas
19/04/2016

8/04/2016 - Por Carol Gonçalves

A crise nas Santas Casas e hospitais filantrópicos de todo o país não é nenhuma novidade. Somente no estado de São Paulo, cerca de 64 unidades encontram-se sob intervenção, ou seja, para não deixarem de atender a população por falta de verbas, o município se responsabiliza pela entidade e aumenta o repasse para suprir o déficit do Governo Federal.

Maior hospital filantrópico da América Latina, a Santa Casa de Misericórdia em São Paulo passa por sua maior crise. Recentemente, demitiu 1.500 funcionários, incluindo 184 médicos e cerca de mil trabalhadores de saúde, seis técnicos de segurança e 14 psicólogos, entre outros profissionais.

Em nota, a Santa Casa disse que antes de chegar ao estudo para a redução do quadro, a administração priorizou ações de gestão, produtividade e controle, bem como renegociações com fornecedores. O plano de reestruturação, segundo a instituição, é garantir a sobrevivência e a viabilidade do hospital, bem como a manutenção de 9.000 postos de trabalho.

De acordo com o Diretor do Simesp – Sindicato dos Médicos de São Paulo, Gerson Salvador, a decisão tomada foi unilateral. “Não houve critério claro para as demissões. Quem acumulou mais de R$ 800 milhões em dívidas, inclusive desviando recursos e superfaturando, não foram os médicos, mas os responsáveis pela gestão anterior”, critica, acrescentando que esta foi uma atitude de desrespeito da administração da Santa Casa com os profissionais. Sobre uma possível negociação com os médicos, diz que isso vem sendo tentado desde o final de 2014, quando não foram pagos o salário de novembro e o 13º.

Salvador conta que devido às demissões, serviços inteiros foram desestruturados, como o setor de transplante de fígado. “E na área de oftalmologia, dois grande profissionais foram demitidos. Com certeza tudo isso impacta no atendimento à população.”

O que mais preocupa, em sua opinião, é a formação dos residentes, que aprendem em serviço com médicos experientes, já que, agora, muitos deles não fazem mais parte do quadro de funcionários da Santa Casa. Sem falar que o próprio médico que atua nessa área está sempre estudando, o que beneficia a própria atuação.

“Na iniciativa privada, os cortes de funcionários acontecem com certa frequência e é algo inerente à atividade; porém, em uma instituição de saúde com tanta tradição e com um histórico de enorme contribuição ao SUS, que sempre prestou atendimento altamente qualificado, é inaceitável que isto ocorra”, declara Florisval Meinão, Presidente da APM – Associação Paulista de Medicina.

Para ele, os médicos demitidos desenvolviam trabalho diferenciado do ponto de vista científico, pelo contato constante com alunos residentes, condição que dificilmente será recuperada, pois são poucas as instituições com este perfil. “Certamente a população será a grande prejudicada. Os médicos demitidos também sofrem grave prejuízo, tanto do ponto de vista financeiro, pela perda de renda, como profissional, por se desligar de uma entidade que é referência em qualidade de assistência médica”, acrescenta.

 


Revista Hospitais Brasil