Internação de pacientes em casa avança no país
26/01/2015
Número de empresas que fazem "home care" sobe de 78 para 239 em dois anos. De acordo com analistas, lotação nos hospitais é um dos fatores que estimula o atendimento em casa
A descoberta de que o bebê possuía síndrome de Down era a menor das preocupações quando Davi nasceu, há dois anos. O menino teve pneumonia e malformação do esôfago. Passou por cirurgias, mas com o passar do tempo o quadro se agravou.
Após sete meses na UTI, o médico sugeriu interná-lo em casa para evitar novas infecções. Agora, vive com a família e técnicas em enfermagem, que se revezam nas 24 horas do dia. Também recebe visitas de médica, fisioterapeuta e fonoaudióloga.
"Na primeira semana em casa, ele já riu", diz a mãe, a administradora Fabiana Ribeiro, 35, que conseguiu que o tratamento fosse custeado pelo plano de saúde e montou uma espécie de mini-UTI.
Hoje, Davi é um dos atendidos por um sistema que avança como extensão ao modelo hospitalar no país: a chamada atenção domiciliar.
Dados tabulados pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), a partir do cadastro do Ministério da Saúde, apontam 239 instituições que oferecerem "home care" na rede privada em 2014. Em 2012, eram 78.
O número pode ser ainda maior, pois nem todas as empresas enviam dados.
Como em um hospital, uma equipe fica à disposição diuturnamente e se reveza no atendimento. O cenário, porém, é a casa do paciente.
A estimativa do setor é que 310 mil pacientes fiquem internados em casa ao ano no Brasil; outros 620 mil recebem atendimento regular de equipes para receber remédios e outros serviços.
"É quase como um hospital ou ambulatório em casa", diz Christina Ribeiro, gerente médica do serviço de "home care" do hospital paulistano Albert Einstein. "Quando começou, tínhamos alguns atendimentos por mês. Agora, temos mais de mil indicações por ano", relata.
Para analistas e associações do setor, três fatores levam ao crescimento: o envelhecimento populacional, associado a mudanças no perfil das doenças, e o aumento na demanda por leitos nos hospitais --daí a necessidade de reorganizar o sistema.
"Os hospitais estão lotados e precisam liberar leitos para pessoas que estejam com quadros mais agudos [graves]", diz Francisco Balestrin, da Anahp. Segundo ele, o crescimento se acentuou nos últimos três anos.
"É uma tendência para dar continuidade ao atendimento", afirma Luiz Cardoso, superintendente de pacientes internados do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Na instituição, entre 2013 e 2014, as indicações para "home care" cresceram 54%.
Segundo Cardoso, modelo é indicado para pacientes que tenham doenças crônicas ou quadro clínico estável, embora precisem de cuidados.
Além de diminuir o risco de infecções, outra vantagem é a redução nos custos, estimada em 50%. Já questões de logística e o impacto na privacidade são os principais impasses para o serviço.
Para Ari Bolonhezi, do sindicato das empresas de atenção domiciliar, o avanço nas tecnologias é outro fator que impulsiona o "home care". Mas é preciso cautela, diz.
"É algo que cresce, mas que precisa ser feito com responsabilidade. Não é qualquer domicílio que pode receber paciente", afirma ele, que cita boas condições de estrutura, acesso e segurança como fundamentais.
A atenção domiciliar também cresce na rede pública. Em 2012, o país tinha 184 equipes cadastradas para atender pacientes por meio do programa Melhor em Casa. Hoje, são 794. Apesar do aumento, a iniciativa não atingiu a meta, que era chegar a mil equipes até 2014.
O Ministério da Saúde diz que habilitou outras 761 equipes, que dependem da iniciativa das prefeituras e Estados.
* Informações da Folha de S. Paulo
* Informações da Folha de S. Paulo