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COMO EVITAR O COLAPSO NO FINANCIAMENTO DA SAÚDE?
22/03/2017

Atualmente, todos os países enfrentam um problema comum: crescimento assustador dos custos da saúde. As autoridades da saúde pública e os convênios médicos passam boa parte do seu tempo tentando reduzir esses custos, para caberem dentro das limitações orçamentárias.

Na última década, um número muito elevado de medicamentos novos, tecnologia e equipamentos hospitalares foi desenvolvido e disponibilizado para uso rotineiro no cuidado dos pacientes. Alguns desses tratamentos podem custar entre 20 mil e 50 mil reais por mês para cada doente. E somente têm indicação ou trazem benefício a um número limitado de pacientes.

A saída imediata das autoridades da saúde foi tentar limitar ao mínimo a liberação desses medicamentos ou equipamentos, ou restringir ou dificultar ao máximo o acesso desses poucos pacientes aos caros avanços da medicina moderna. Essa saída parece lógica.

Quanto menos gasto com os remédios extremamente caros, mais recursos sobram para os tratamentos convencionais dirigidos à maioria absoluta da população. E essa estratégia tem sido corriqueira no Brasil.

A liberação de medicamentos novos e seu uso rotineiro na prática médica diária sofrem, no País, retardos desproporcionais à incorporação mundial dos mesmos tratamentos.

Um editorial recentemente publicado na prestigiosa revista New England Journal of Medicine, redigido pelos cientistas da Universidade Harvard em Boston (EUA), os doutores J.M. McWilliams e A.L. Schwartz, questiona essa política e sugere que as autoridades estariam com visão inapropriada.

Esses pesquisadores alertam que estabelecer o alvo primordial dos cortes de despesas nos pacientes que exigem os tratamentos mais caros pode não ser eficiente em atingir a meta final de diminuição dos custos da saúde da população em geral.

Após análise detalhada do destino dos recursos gastos no sistema de saúde americano, os cientistas sugerem que as autoridades avaliem de forma sistemática as estratégias voltada para os pacientes de alto custo com aquelas destinadas à redução de serviços médicos de baixo valor.

Acreditam que “a redução de desperdício possa ser alcançada por meio de mudanças que não requeiram a discriminação de um grupo específico de pacientes”.

Nesse sentido, ações podem incluir o desenvolvimento de redes preferenciais e eficientes de especialistas e instituições, realização de consultas e segundas opiniões por meio da internet para reduzir procedimentos e deslocamentos desnecessários, sistemas de apoio às decisões médicas que limitem o uso de exames radiológicos, laboratoriais ou administração de tratamentos de baixos valores e benefícios, redução da indicação de procedimentos ineficazes, sistemas de redução de tempo de hospitalização inadequado, controle rigoroso de desvios criminosos de verbas, programas de retreinamento e atualização dos médicos, mudanças na remuneração médica que melhorem as condições de trabalho e a eficiência do cuidado aos pacientes.

Os autores sugerem uma revisão honesta do foco das autoridades da saúde, de forma a considerar a readequação dos recursos e garantir o acesso dos poucos pacientes que requeiram e se beneficiem das novidades tecnológicas absolutamente necessárias, por meio de realocação dos recursos longe do desperdício de valor discutível.

Dinheiro jogado fora em sistemas, instituições ou profissionais com baixa eficiência. Os doutores McWilliams e Schwartz recomendam fortemente criar grupos de estudo desses problemas imediatamente, para evitar que a má distribuição de recursos leve ao colapso generalizado do financiamento da saúde da população. Negar tratamentos caros para alguns pacientes pode não ser o melhor caminho, nem o único.

*Médico, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professor da Faculdade de Medicina da USP.

Autor: Riad Younes


Fonte: Carta Capital