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EPM COMPLETA 85 ANOS
05/07/2018

Em 1933, nascia a Sociedade Civil Paulista de Medicina (hoje, SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), com com um duplo objetivo: criar uma escola médica, fomentando o ensino do ofício, e um hospital-escola, prestando contribuição à sociedade paulista da época. Estavam estabelecidas, então, a Escola Paulista de Medicina (EPM), que foi a segunda faculdade médica do estado de São Paulo; e a SPDM, entidade filantrópica de Saúde que gerencia unidades hospitalares e ambulatoriais, incluindo o Hospital São Paulo (HSP), inaugurado em 1940 - primeira instituição de Saúde a ser especificamente escola.

O discurso de posse do primeiro diretor da EPM, professor Octavio de Carvalho, proferido a 15 de julho de 1933, começava assim: “Qual as nascentes cabeceiras que, uma a uma, afluem e se confluem para formar o Amazonas, o Nilo ou as catadupas do Niágara, arrastando barreiras, lutando contra obstáculos intransponíveis, porém avançando sempre, nasceu a Escola Paulista de Medicina, oriunda, por sua vez, de acontecimentos sociais inelutáveis. A Escola Paulista de Medicina não é aventura, nem leviandade daqueles que assumiram a responsabilidade de sua ereção. Ela se ergue pobre na simplicidade de suas instalações, porém suficientes; modesta na parcimônia justa de seus instrumentários, porém soberba na majestade de seu idealismo desinteressado”.

primeira sede da Escola Paulista de Medicina

“De armas vencidas e almas vencedoras, mal saía São Paulo de um desastre heroico que o deveria abater se fosse fraco, mas que só o exaltou porque é forte, já na sua terra – terra ainda morna dos corpos que se esfriavam sobre ela, eijando-a, lançava-se há pouco mais de três anos uma semente milagrosa, a da Escola Paulista de Medicina”

GUILHERME DE ALMEIDA, poeta e jornalista, em 1936

Neste momento, a Escola era privada, criada por 33 jovens – 31 médicos e dois engenheiros. Em 1938, ainda sem um local fixo para o ensino da Medicina, os médicos adquiriram – por 450 contos de réis – a Chácara Schiffini, na Rua Botucatu, onde seria construído tanto a faculdade como o hospital.

Havia, ainda, um entrave: o dinheiro. Os pioneiros foram ao encontro de Dona Maria Tereza Nogueira de Azevedo, fundadora da Associação Cívica Feminina e de grande influência na sociedade, e a convenceram a investir na adaptação da propriedade.

Em pouco mais de dois meses, estava erguido o “Pavilhão Maria Tereza”, com 100 leitos, sede provisória do Hospital São Paulo. Já naquela época, foram instaladas enfermarias e um laboratório de análises, embrião do que viria a ser o Laboratório Central do Hospital São Paulo. A Escola Paulista de Medicina foi reconhecida oficialmente em 31 de maio de 1938 e sua federalização ocorreu pelo Decreto Presidencial de 21 de janeiro de 1956. Ela, que nasceu do pioneirismo de um grupo de jovens, tem mantido esse espírito inovador desde então.

A visão dos professores tem sido, desde a sua fundação, que a eficiência na área da Saúde só seria alcançada se houvesse diversificação na formação de pessoal. Assim, a EPM começou com o curso de Medicina, seguindo depois a criação da Escola de Enfermagem (1939). Também foi pioneira em implantar programas de residência médica no Brasil, ainda em 1957. Em 1966, foi criado o curso de Ciências Biomédicas e nos anos seguintes surgiram, ainda, os de Fonoaudiologia, de Tecnologia Oftálmica e o primeiro curso de pós- -graduação da EPM.

José Carlos Prates, que foi diretor da Escola Paulista de Medicina de 1975 a 1978, declara: “Cheguei à EPM em 1961 e tenho uma forte relação com a instituição. Fui professor auxiliar, assistente, adjunto, titular e chefe de departamento. Somando tudo, estou na Escola há 58 anos. Vivi muito bem e muitas coisas por lá. Ainda continuo no departamento de Anatomia, participando de reuniões e encontros, em minha sala, como acontece desde 1970”.

Da mesma forma, Nader Wafae, diretor da EPM de 1987 a 1991, afirmou ao Banco de Memória e Histórias de Vida  da instituição: “Eu não posso conceber a minha vida afastada da Escola Paulista de Medicina, porque realmente é minha vida, é o meu tesouro aonde deixei meu coração”. Ele foi sucedido por Manuel Lopes dos Santos, diretor da EPM entre 1991 e 1995, que diz que a escola ofereceu a ele muito mais do que a formação em Medicina.

“Cheguei à EPM em 1961 e tenho uma forte relação com a instituição. Vivi muito bem e muitas coisas por lá” JOSÉ CARLOS PRATES

EPM/UNIFESP

Por conta da criação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 15 de dezembro de 1994, resultado da transformação da Escola Paulista de Medicina em universidade da área da Saúde, a grande maioria de seus reitores veio da EPM, caso de Hélio Egydio Nogueira (1995 a 2003): “Depois que a Escola foi absorvida pela Unifesp, fui o primeiro reitor. Fiquei, portanto, oito anos à frente do Hospital São Paulo e outros oito como reitor da Unifesp. Sempre com enorme colaboração de todos. A Escola está ao lado da Medicina de modo geral, mas principalmente está ao lado dos pobres doentes e dos doentes pobres. Sempre esteve e sempre estará a serviço do povo”.

Seu sucessor, Ulysses Fagundes Neto, reitor da Unifesp entre 2003 e 2008, acredita que a Escola Paulista de Medicina representa o pilar básico de ensino, pesquisa e extensão dentre as instituições universitárias do País. “Foi paixão à primeira vista desde 1965, quando ingressei como acadêmico. Paixão que se manteve duradoura até os dias atuais. Tudo que conquistei foi graças a esta extraordinária e íntima associação entre minha pessoa e a EPM.”

Marcos Pacheco Ferraz, que foi reitor pro tempore entre 2008 e 2009, conta que a primeira coisa que chamou a atenção de sua turma foi a recepção, em um evento muito grande. “Nesse período, a Escola Paulista de Medicina deixava de ser a ‘escolinha’, como se referiam alguns médicos à época em que a entidade era privada. E estava preparando para virar uma universidade. Uma questão importante que trouxe também foi a inclusão racial, fazendo uma discussão sem pressão que aprovou cotas para negros e pardos.”

“Desde que me lembro, queria ser médica e sempre quis estudar lá, pois era uma escola pública de renome” EMÍLIA INOUE SATO

Walter Manna Albertoni, atual presidente da Assembleia de Delegados da Associação Paulista de Medicina, foi reitor da Unifesp entre 2009 e 2013 e reitera: “A Escola Paulista de Medicina, sem dúvida é a mais importante escola médica do Brasil. Ombreia-se à Faculdade de Medicina da USP, com quem alterna como melhor curso médico pelos mais diferentes rankings de avaliação. Graças ao que ali aprendi pude ter sucesso na minha vida profissional”.

Paulo Augusto Lima Pontes, diretor do campus São Paulo da Unifesp entre 2011 e 2013, é outra figura notável que fez carreira na EPM. Ainda nos anos 1960, foi mentor e primeiro residente do programa de Otorrinolaringologia, além de participar da criação do curso de Fonoaudiologia.

“Fui me especializar nos Estados Unidos e, ao retornar, criei o serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço na EPM. Na diretoria, conseguimos, via MEC, comprar o prédio que abrigará a segunda unidade do Hospital São Paulo. Também, pela Prefeitura, obtivemos outra área que será destinada à expansão do campus São Paulo, entre outras conquistas.”

“A Escola Paulista de Medicina é o grande celeiro de médicos do Brasil. Tem por característica o humanismo na relação médico-paciente e a não discriminação social, além de ser um ambiente de construção e divulgação de conhecimento. Cumpre perfeitamente seus objetivos, as metas pelas quais foi fundada”, ressalta Antônio Carlos Lopes, diretor no período de 2011 a 2015 e presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.

A atual diretora, Emília Inoue Sato, conta que sua relação com a EPM começou nos primeiros minutos de vida, já que ela nasceu no Hospital São Paulo, local em que uma tia materna estudava Enfermagem. “Desde que me lembro, queria ser médica e sempre quis estudar lá, pois era uma escola pública de renome. Sou muito grata a todas as oportunidades que tive de crescimento pessoal e profissional nesta instituição. Considero uma obrigação retribuir com trabalho e dedicação à instituição que me é tão cara.”

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Diversos membros das diretorias da APM ao longo da história têm relação com a EPM, como quatro ex-presidentes que foram docentes: Jairo Ramos, Edison de Oliveira, Henrique Mélega e Oswaldo Giannotti. Além disso, José Luiz Gomes do Amaral, atual presidente da APM, se graduou e se especializou pela EPM, onde é professor titular de Anestesiologia.

O professor titular Luiz Roberto Ramos tem uma história que mistura família, EPM e APM. O avô Jairo foi um dos fundadores da Associação e da Escola, onde permaneceu até se aposentar, e seu pai, Oswaldo, lá se formou e foi um destacado professor. “Quando entrei na EPM, em 1971, meu avô havia se aposentado há pouco e meu pai estava na ativa como professor. Foi uma sensação diferente entrar em um lugar em que todos me conheciam.” Outros membros da atual diretoria executiva da APM, conselheiros fiscais e delegados também passaram pela Escola Paulista de Medicina. Entre eles estão o diretor Científico, Álvaro Nagib Atallah, e o vice-presidente Akira Ishida, professor titular do departamento de Ortopedia e Traumatologia: “A EPM me deu formação profissional e pessoal.” Da mesma maneira, o diretor de Previdência e Mutualismo da Associação, Clóvis Francisco Constantino: “A EPM é uma das mais importantes e pujantes escolas de Medicina do mundo, formando grandes personalidades da área nestes 85 anos. Na minha vida pessoal, significou grande convivência com professores extremamente valiosos que tive na graduação. Foi um aprendizado muito profícuo, os docentes eram famosos e por isso absorvemos todo o ensinamento técnico, científico e ético que nos passaram.”

CONTRIBUIÇÃO

O atual presidente da SPDM, Ronaldo Laranjeira, também fala da EPM: “Foi uma das coisas mais importantes da minha vida pessoal e profissional. Até hoje sou professor titular. São poucas as instituições no Brasil que possuem 85 anos com cada vez mais qualidade, se adaptando às mudanças. Também observamos que várias das grandes empresas e instituições médicas, hoje, possuem participação de ex-alunos da Escola.”

O superintendente dos hospitais afiliados da SPDM, Nacime Salomão Mansur, considera a Escola como a sua base. “Passei 70% da minha vida dentro dela. Foi ali que criei meus filhos, inclusive com dois deles cursando Medicina na EPM, vivendo essa experiência também. São 42 anos que vivo intensamente e diariamente a Escola, o Hospital São Paulo e, agora, os hospitais afiliados que administramos.”

É praticamente impossível pensar em uma instituição de Saúde paulista, e muitas brasileiras, que não tenham a contribuição da EPM de alguma forma.

É o caso do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), por exemplo. “A Escola foi quem proporcionou todas as condições para termos o instituto de oncologia pediátrica, que é uma das maiores forças de tratamento de câncer infantil na América Latina”, informa Antônio Sérgio Petrilli, superintendente médico da instituição.

Da mesma forma ocorreu com a Associação Beneficente de Coleta de Sangue (Colsan), presidida atualmente por Ricardo Luiz Smith, que também já atuou como vice-reitor da Unifesp entre 2009 e 2013. “A EPM tem destacado significado para a Medicina por ter formado profissionais de excelente qualidade, que atuam tanto no País como no exterior. Temos uma relação intensa, visceral, mental e intelectual, pois foi onde estudei, me graduei e pós-graduei e ocupei diversos cargos. Desde 2016, sou professor aposentado voluntário.”

João Ladislau Rosa, que foi presidente do Cremesp entre 2013 e 2014, diz que teve grande experiência de vida na Escola Paulista de Medicina. “É uma forte ligação profissional, mas também de formação de vida e emocional. Encontro com colegas de turma frequentemente. E até hoje atuo em projetos com a SPDM, mantenedora do Hospital São Paulo.”

“A EPM ombreia-se à Faculdade de Medicina da USP, com quem alterna como melhor curso médico nos rankings de avaliação” WALTER MANNA ALBERTONI

Edmund Chada Baracat, diretor Científico da Associação Médica Brasileira em algumas gestões, conta que entrou na EPM em 1971, na 39ª turma. “É uma das grandes escolas médicas do Brasil e me deu condições de alcançar muitos objetivos. Sou professor titular aposentado, mas foi uma grata felicidade ter atuado lá. Tenho muito orgulho de minha turma, tão unida até hoje”, conta o especialista, que é professor titular de Ginecologia e Obstetrícia e pró-reitor adjunto de Graduação da Universidade de São Paulo.

PRESENTE E FUTURO PROMISSORES

Mesmo os que estão há menos tempo na Escola Paulista de Medicina têm uma relação de extremo carinho, como é o caso de Aécio Flávio Teixeira de Gois, coordenador do curso de Medicina. “Estou aqui há 16 anos e tiver a oportunidade de aprender muito.

Posso dizer que a EPM foi a minha grande escola, como educador e médico, já que dedico 90% do meu tempo a ela. A escola representa, também, minha realização como ser humano. Apesar de todas as adversidades que podemos enfrentar, sou muito realizado.”

“Egressos da nossa Escola estão espalhados pelo Brasil, em tantas outras faculdades de Medicina, transmitindo não apenas os conhecimentos médicos adquiridos na EPM, mas também a postura humanística e a ética que permeiam o nosso curso.

Tento transmitir tudo o que aprendi aos meus alunos, para que essa tradição não se perca nunca. Trá-crá-trá! (grito da Faculdade, para quem não conhece)”, declara Marair Sartori, professora livre-docente.

Além das inúmeras sociedades paulistas de especialidades que têm relação com a EPM/Unifesp, algumas entidades nacionais são presididas atualmente por ex-alunos, como é o caso da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Gilmar Fernandes do Prado, presidente da ABN, relembra o assombro de conhecer a Escola: “Tantos desafios! E os mistérios da Medicina caminhando pelos pátios, em vívidos diálogos, laboratórios, ambulatórios e, no espelho da responsabilidade, as faces dos pacientes sintetizando a humanidade e nosso próprio caminho. Já Helena Bonciani Nader, ex-presidente da SBPC e professora titular da EPM, considera a Escola como parte preponderante de sua vida. “É parte da família, e como tal, não consegui abandoná-la, estando até hoje neste grande centro de formação. Sou muito grata por fazer parte dessa história.”

“A Escola está ao lado da Medicina de modo geral mas, principalmente, está ao lado dos pobres doentes e dos doentes pobres” HÉLIO EGYDIO NOGUEIRA

Membro honorário da Academia de Medicina de São Paulo, Oswaldo Ubriaco Lopes, professor titular de Fisiologia da EPM, tem uma relação curiosa com a instituição: “Não seria justo negar que meu coração de estudante ficou em Pinheiros.

Era o grande amor da primavera. A EPM, por outro lado, foi minha paixão avassaladora de outono. Por uma incrível e amorosa coincidência, casei-me com Almira Rossetti, que era filha de um dos fundadores da EPM, o professor Nicolau Maria Rossetti, catedrático de Dermatologia”.

“É uma das grandes escolas médicas do Brasil e me deu condições de alcançar muitos objetivos” EDMUND CHADA BARACAT

Arnaldo Guilherme, presidente do Conselho de Ética do Hospital São Paulo, também conta que foi na Escola que conheceu sua esposa. “Tenho uma ligação afetiva grande e continuo até hoje como docente. Resumindo, são 48 anos ligado à EPM. Os meus tempos de aluno seguramente foram os mais felizes e tenho grande saudade.”

ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA

Entre os tantos médicos expoentes que saíram da EPM, alguns se tornaram membros da Academia Nacional de Medicina. Além do presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral (que ocupa a cadeira nº 48 da instituição), entre os atuais membros da entidade que se formaram na Escola estão José Osmar Medina de Abreu Pestana (cadeira nº 50) – superintendente do Hospital do Rim, também criado lá dentro -, que relembra: “Era um ‘moleque caipira’ e fui aprendendo a ser médico e professor. Aprendi com o doutor Baruzzi os benefícios do trabalho voluntário no Xingu e incorporei este conceito entre as minhas atividades”.

Já Rubens Belfort Mattos Júnior, ocupante da cadeira nº 64, declara que a EPM é fundamental. “Sempre foi uma instituição que deu acolhida para os interessados em fazer a Medicina melhorar. Também foi sempre a organização mais empreendedora em Saúde no Brasil.

Nunca tivemos muito dinheiro, mas tínhamos liberdade.” Rui Monteiro de Barros Maciel (cadeira nº 49), destaca os programas pioneiros de residência médica e pós-graduação da EPM, que já formaram milhares de pesquisadores nos últimos 50 anos, além de ser o maior centro de pesquisa médica nacional. “Minha relação com a Escola é especial, foi onde fiz toda a minha formação e sou docente e pesquisador há mais de 40 anos.” Entre outros já falecidos, Oswaldo Luiz Ramos (cadeira nº 12) graduou-se na EPM em 1951. Por lá, coordenou a Comissão de Residência Médica, chefiou disciplinas, foi professor e chefe do departamento de Medicina. Já Nestor Schor (cadeira nº 42) formou-se pela EPM em 1972, seguiu carreira acadêmica até livre-docente e chegou a ocupar a posição de pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa.

Publicado na Revista da APM - junho 2018 - edição 700