PROFISSIONAIS DE MEDICINA TAMBÉM ENFRENTAM PROBLEMAS NO SUS
23/07/2018
Dificuldades para encaminhamento de pacientes e problemas para a realização de exames, diagnósticos, internações e procedimentos são os destaques, segundo pesquisa APM/Datafolha
O levantamento encomendado pela Associação Paulista de Medicina ao Instituto Datafolha, apresentado em coletiva de imprensa no dia 19 de julho, também avaliou a opinião dos médicos com relação ao Sistema Único de Saúde. Dificuldade para encaminhar pacientes para outros especialistas ou hospitais, conseguir realizar exames, diagnósticos e internação estão entre os desafios diários enfrentados pelos profissionais.
Para se ter ideia, 90% dos entrevistados disseram ser difícil encaminhar usuários para outras especialidades e outros hospitais. O processo de internação de pacientes é avaliado de forma negativa por oito a cada dez médicos. Com relação ao tempo para conseguir a internação, 87% criticam a lentidão na rede pública.
Na avaliação quanto aos procedimentos cirúrgicos e de exames, 85% atribuem notas negativas (de 0 a 7) para conseguir salas. E 91% dos médicos criticam o andamento do sistema para a realização de exames e métodos de diagnósticos. Os equipamentos para exames e diagnósticos e a infraestrutura para a prática clínica também são criticados por nove em cada dez médicos que participaram do estudo.
“Há uma percepção da sociedade em geral quanto a esse cenário do SUS. Apesar de ser estruturado para atender da melhor forma possível a população brasileira, deixa muito a desejar. Isso está relacionado, sobretudo, à questão do subfinanciamento do sistema”, afirma o diretor Administrativo e ex-presidente da APM, Florisval Meinão.
Segundo ele, a chamada PEC do Teto, que limita os gastos do Governo Federal até 2036, sendo corrigidos apenas pela inflação, agrava ainda mais os problemas do SUS. “Não vejo perspectiva de melhora a curto prazo. É preciso destacar que, nos últimos quatro anos, tivemos uma alternância alta de ministros da Saúde. Não há como se fazer uma programação e previsão para o sistema com essa grande rotatividade. Os dois últimos que ocuparam o Ministério, por exemplo, nem são médicos ou profissionais da Saúde. Portanto, penso que o SUS deixou de ser uma prioridade nos últimos Governos.”
O diretor de Defesa Profissional da Associação, Marun David Cury, relembra que as iniciativas populares e de entidades médicas pressionaram, no passado, as instâncias públicas em destinar o investimento de 10% da arrecadação bruta da União para a Saúde. “O projeto de iniciativa popular, com mais de dois milhões de assinaturas, foi levado à Câmara, mas se perdeu. Desde então, nunca se conseguiu estabelecer regras claras de repasse para o sistema.”
Agressões
Sejam verbais, físicas e/ou psicológicas, são outra situação desoladora enfrentada pelos médicos no SUS. Sessenta e quatro por cento dos entrevistados afirmaram sofrer algum tipo de violência em exercício profissional no sistema público. Xingamentos e ofensas representam 57% desse universo. Em seguida vem a coerção psicológica, como ameaças e constrangimentos, com 53%. Agressão física (tapas, chutes e socos), 12%; e outras violências - falta de pagamento, danos materiais, danos ao carro, preconceito e bullying por parte das chefias -, 3%.
“A agressão é uma consequência direta das dificuldades atuais do SUS, descritas por esta pesquisa. É um reflexo da ineficiente política de saúde que engloba tanto o sistema público quanto o privado, que são absolutamente insuficientes para garantir assistência com qualidade e eficiência. Se considerarmos também os médicos que atendem na rede suplementar e os outros profissionais da Saúde, esse número será ainda muito maior”, analisa Meinão.
A pesquisa quantitativa entrevistou 615 médicos no estado de São Paulo entre 12 de junho e 2 de julho, dos quais 60% trabalham na rede pública de saúde, com margem de erro de quatro pontos percentuais.
Fonte: APM/Datafolha