COMPANHIAS QUEREM CORTAR CUSTOS NA ÁREA DE SAÚDE
13/09/2018
Para fugir dos altos custos dos planos de saúde, as empresas querem influenciar mais o comportamento dos empregados criando programas preventivos de incentivos a atividades físicas e acompanhamento de doenças crônicas. Na visão dos funcionários, no entanto, falta observar algo que não costuma aparecer na descrição desses programas - o quanto o ambiente de trabalho criado pela empresa no dia a dia é saudável.
Segundo pesquisa da consultoria Willis Towers Watson com mais de mil empresas da América Latina, sendo 356 delas brasileiras, redesenhar planos de saúde para cortar custos será a prioridade da maioria (85%) das companhias do Brasil nos próximos três anos quando o assunto é benefícios.
O segundo ponto mais citado, por 84% delas, é ampliar programas de bem-estar e saúde para influenciar mais o comportamento dos funcionários. As duas médias cresceram na comparação com a pesquisa feita no ano passado e são maiores que na América Latina como um todo.
O aumento do custo dos benefícios é visto como o maior desafio para as empresas nos próximos três anos tanto no Brasil quanto na região. Em um ano em que a inflação médica deve chegar a 19% no país, os dados não surpreendem René Ballo, responsável pela área de consultoria em benefícios da Willis Towers Watson. "Não só tem a ver com o impacto no clima da organização, o que também potencializa o resultado, mas as empresas estão de olho no sinistro da assistência médica", diz.
Hoje, 49% das empresas brasileiras pesquisadas têm incentivos a atividades físicas - quando adicionadas as companhias que planejam oferecer esse benefício nos próximos três anos, esse número sobe para 72%. Os formatos mais comuns são convênios com academias e a criação de grupos de corrida ou outros esportes. Quase 40% das companhias fazem algum tipo de gerenciamento de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, número que deve subir para 64% nos próximos anos. Com isso, as empresas buscam acompanhar se os funcionários fazem exames periódicos, o que pode evitar uma internação no futuro.
Segundo Felinto Sernache, líder da área de consultoria e soluções em previdência para a América Latina na Willis Towers Watson, um impedimento ao crescimento desse tipo de programa é o receio entre os funcionários de se exporem como grupos de risco. "Muitas vezes as pessoas se fecham para não serem vistas como passíveis de perder o emprego no futuro", diz.
A pesquisa aponta que há certa desconexão entre as opiniões dos empregadores e dos funcionários sobre programas de bem-estar. Entre representantes das companhias, 50% afirmam que eles encorajam os funcionários a levar um estilo de vida saudável - número que cai para 38% entre os empregados. Um problema pode ser a distância entre o discurso dos programas e a realidade de trabalho na empresa: enquanto 66% dos empregadores acham que a organização promove um ambiente de trabalho saudável, só 46% dos funcionários concordam.
Para Ballo, esse tipo de incoerência pode até fazer o programa ter o efeito contrário. "Não adianta ter um programa de bem-estar se o funcionário não tem nem tempo de ver a família direito. A empresa tem que tomar cuidado na implementação, até para não aumentar o ressentimento por parte dos funcionários", diz.
Hoje 66% dos empregadores veem o estresse como principal problema entre os funcionários, mas só 20% já tomam medidas para diminuí-lo. Sedentarismo, sobrepeso, dificuldades financeiras e tabagismo são outros problemas identificados pelas empresas. Embora seja um tema que ainda apareça menos como parte de programas de benefícios, as medidas para ampliar a segurança financeira também devem crescer, segundo a pesquisa. Hoje, 22% das empresas brasileiras têm programas com esse perfil, número que sobe para 33% quando incluídas as que planejam incluí-lo nos próximos três anos. Os formatos mais comuns, segundo Sernache, são compartilhamento de planilhas de planejamento financeiro, palestras com especialistas e aplicativos que auxiliam nas contas pessoais.
Fonte: Valor Econômico