NOVO GOVERNADOR DE SP TERÁ DE INTEGRAR SAÚDE ESTADUAL COM MUNICÍPIOS
26/09/2018
Essa é a opinião de especialistas ouvidos pela reportagem, na segunda reportagem da série sobre os desafios para o novo governador. “O primeiro é o financiamento. Há candidatos que acham que tem dinheiro sobrando na saúde, o que é hipocrisia e ignorância”, afirma Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
O próximo governador de São Paulo terá pela frente o desafio de integrar as redes de saúde do estado e dos municípios, fortalecendo o SUS (Sistema Único de Saúde), mesmo diante de um cenário de queda nas receitas e orçamento enxuto.
Segundo o especialista, as parcerias público-privadas, com a atuação de OSSs (organizações sociais de saúde) precisam ser mantidas.
Vecina Neto diz também que é importante fazer a articulação entre a rede estadual e a dos municípios, garantindo que o cidadão siga por um fluxo de atendimento desde as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) até hospitais, se for o caso. “Agenda única e porta única, sendo o caminho que garante o acesso da população de forma mais ordenada. Não faz e não fez por uma série de questões políticas. É gravíssimo”, diz.
Hospitais públicos em SP
Ele também aponta a necessidade de manter investimentos em inovação e tecnologia, por meio das universidades públicas e de fundações. “Os políticos só conseguem enxergar equilíbrio de contas sem gastar, o que é um sinal da mediocridade.”
FINANCIAMENTO
Marilia Cristina Louvison, professora do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública, diz que o SUS tem crise de financiamento. “Está relacionada a acreditar que a saúde pública não é um direito”, afirma.
“O sistema de saúde privado tem a lógica do lucro. A saúde precisa ser igual para todo mundo. Como posso imaginar que não seja em função da necessidade, mas da capacidade de comprar? É um direito universal”, diz.
Ela afirma que o novo governador precisa priorizar a atenção básica. “Nas comunidades, do jeito que precisam, com menos tecnologia que a gente conhece, mas com as relações, cuidados.”
Um exemplo das dificuldades de integração entre os serviços estaduais e municipais de saúde é o Hospital do Mandaqui (zona norte de SP), do governo do estado.
Conselheiro gestor do hospital, Marco Cabral aponta uma série de problemas: elevadores, macas, cadeiras e equipamentos em geral quebrados, falta de profissionais e médicos, de estrutura para acomodar pacientes, que ficam muitas vezes espalhados pelos corredores.
Para ele, além disso, há uma indefinição sobre a função da unidade. “Por falhas na atenção básica, muitas pessoas acabam buscando ajuda diretamente no hospital”, afirma. A atenção básica, a começar pelas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), é de responsabilidade das prefeituras municipais.
O gestor de segurança do trabalho Robson Frank Silva, 47 anos, é um exemplo das dificuldades na atenção básica. Na última sexta-feira, ele acabou no Mandaqui após procurar, por três dias, ajuda para tratar uma infecção testicular em outras unidades de saúde.
Tinha ido a uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial) e uma UBS, onde prometeram um ultrassom em 25 de outubro. As unidades são da prefeitura, da gestão Bruno Covas (PSDB). “O meu problema é urgente”, disse Silva, que saiu do hospital com uma lista de remédios, após ser examinado.
Quem acompanha pacientes internados critica também a falta de leitos.
RAIO-X
Número do governo estadual
101 hospitais
60 Ames (Ambulatórios Médicos de Especialidades)
139,5 mil profissionais
104 contratos de gestão de serviços em parceria com OSSs (Organizações Sociais de Saúde)
Ao ano
72,5 mil internações
50,9 mil cirurgias
1,3 milhão de consultas ambulatoriais e de urgência
3,5 milhões de exames
Recursos anuais
R$ 22,4 bilhões de orçamento
R$ 1,2 bilhão em assistência farmacêutica
Fonte: Secretaria de Estado da Saúde
Fonte: Folha de S. Paulo