TÉCNICA DA USP RIBEIRÃO QUE REVERTE AVC PODE SER INCORPORADA PELO SUS
10/05/2019
Segundo o neurologista Octavio Pontes Neto, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, que desenvolveu a técnica no Brasil, um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde, que estava em andamento há cerca de quatro anos para comprovar a eficácia e segurança do tratamento, foi concluído.
“A eficácia foi comprovada com um terço dos pacientes planejados, sugerindo que o benefício é bastante substancial. O alvo era incluir 600 pacientes, mas, na primeira análise intermediária, com 200, em que pesquisadores externos ao estudo analisam os resultados premilimares, foi constatado que os resultados eram positivos. A técnica é superior ao tratamento clínico”, afirma.
Chamado “Resilient”, o estudo clínico foi coordenado pela neurologista Sheila Martins, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e presidente da Rede Brasileira de AVC, com participação de Pontes Neto, como integrante do Comitê Diretor. Os resultados devem ser oficialmente apresentados ainda este mês no Congresso Europeu de AVC, em Milão, na Itália.
“É um gol de placa no Brasil. O AVC é a segunda causa de morte no país. Há mais de 400 mil casos por ano de AVC e poucos pacientes têm acesso ao tratamento. Os resultados são realmente impressionantes. Há paciente que entra em coma no hospital ou sem mexer completamente um lado do corpo e, muitas vezes, com o tratamento, sai andando”, afirma.
A trombectomia mecânica é um procedimento similar ao cateterismo, no qual um microcateter alcança o cérebro, por meio de uma artéria da perna, e “pesca” o coágulo que está entupindo a artéria no cérebro. O objetivo é restaurar o fluxo sanguíneo para evitar a morte daquela região cerebral.
A técnica é indicada para AVC isquêmico, o mais comum, que representa 80% dos casos, com oclusão de grandes artérias, que são os casos mais graves. O microcateter só consegue penetrar nas grandes artérias do cérebro.
No AVC isquêmico há o entupimento da artéria que leva sangue para o cérebro; no AVC hemorrágico, que engloba os outros 20% dos casos, a artéria se rompe e extravaga sangue para o cérebro.
Para o AVC isquêmico, existem dois protocolos que podem reverter o quadro: a trombectomia mecânica, ainda não oferecida pelo SUS, e o tratamento trombolítico, já oferecido pela rede pública. Ambos só podem ser aplicados nas primeiras 24 horas do AVC.
Nesse tratamento, o coágulo é dissolvido por um medicamento ministrado pela veia. A diferença entre o tratamento trombolítico e a trombectomia mecânica, que deve ser ainda incorporado ao SUS, é que o primeiro é indicado em 40% dos casos de AVC isquêmico, já o segundo, em 20%, ou seja, apenas nos casos mais graves.
“A taxa de sucesso do tratamento trombolítico é de 40%, já da trombectomia mecânica chega a 90%. As técnicas são alternativas e podem também ser complementares”, explica.
Apenas 2% dos pacientes com AVC recebem o tratamento trombolítico. Segundo ele, essa porcentagem é baixa devido ao atraso no atendimento. “Diferentemente do infarto, a população não perecebe rapidamente que se trata de uma urgência. Os sintomas são fraqueza de um lado do corpo, dificuldade para falar e para enxergar. Mas e passoa não percebe que aquilo é uma urgência, acha que vai passar espontanemante e, às vezes, vai dormir e só procura um hospital no dia seguinte. E daí perdeu-se a oportunidade de tratar”, afirma.
Ele ressalta que, quando os sintomas são reconhecidos, deve-se ligar para o Samu (192) ou levar paciente para um hospital que tenha protocolo de AVC – nem todos estão aptos a atender a esse tipo de urgência.
“A técnica etá disponível na rede privada desde 2015. Nos últimos anos, vem sendo aprimorada, com novos dipositivos para pescar o coágulo de forma muito mais eficaz. Os resultados impressionantes estão aparecendo agora”, diz.
Sobre técnica que reverta o AVC já estabelecido, ele afirma que há vários estudos em andamento para restaurar áreas que já foram perdidas no cérebro. Entre elas estão pesquisas com células-tronco, estimulação magnética transcraniana e medicamentos que ajudam a restauração das funções cerebrais. “Mas todos estão em fase experimental”, conclui.
Fonte: Portal R7