BNDES CRIA LINHA DE CRÉDITO PARA O SETOR DE SAÚDE E ASSUME RISCO
23/05/2019
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) criou uma linha de crédito voltada à inovação que deve atender, principalmente, as fabricantes do setor de saúde. As empresas elegíveis são aquelas com faturamento anual entre R$ 3 milhões e R$ 300 milhões, que poderão contratar empréstimos de R$ 1 milhão a R$ 10 milhões.
O diferencial do produto é que a empresa poderá usar o fundo garantidor (FGI) do BNDES, em vez de dar uma garantia real para a contratação da linha. No momento da assinatura do contrato, a empresa paga cerca de 3% do valor do empréstimo para compor o fundo garantidor.
“É a primeira vez que o BNDES oferece uma linha de crédito direta em que o risco é do banco. Também ajudará muitas empresas da nova economia que não têm ativos imobilizados para dar como garantia”, disse Joaquim Levy, presidente da instituição. A taxa de juros é TJLP mais o spread básico do banco, que é de 1,3% ao ano. O prazo de amortização varia conforme o segmento do interessado.
As empresas de todos os setores são elegíveis ao financiamento. Mas, segundo fontes, a nova linha de crédito deve atender, principalmente, as fabricantes de equipamentos médicos que desde 2012 negociavam uma linha de crédito nesses moldes junto ao BNDES.
“Nosso setor investe muito em pesquisa, mas temos dificuldade para acessar um financiamento para inovação porque o que existe são empréstimos indiretos [via bancos comerciais], com juros altos e exigência de garantia”, disse Franco Pallamolla, presidente da Abimo, associação da indústria de equipamentos médicos. “Uma opção é a Finep, mas o processo dos editais é burocrático e leva entre seis e oito meses para aprovação”, complementou. Na linha do BNDES, o prazo de resposta da solicitação é de três meses.
A indústria de equipamentos médicos movimenta R$ 11 bilhões, sendo que 40% da demanda vem do mercado nacional – a exportação atinge cerca de 80 países.
Segundo Levy, o montante contratado deve ser entre R$ 200 milhões e R$ 500 milhões, podendo superar essas cifras se houver demanda. O financiamento foi lançado, ontem, na Hospitalar, feira do setor de saúde. “Nossa ideia é oferecer já na Hospitalar. Às vezes, na própria feira, há uma forte demanda. Isso aconteceu na Agrishow com o Moderfrota [programa voltado para máquinas e equipamentos agrícolas], em que colocamos um recurso adicional de cerca de R$ 500 milhões que se esgotou numa tarde, na feira”, disse o presidente do banco de fomento.
No setor de saúde, o BNDES possui uma carteira de R$ 11 bilhões, sendo que R$ 7 bilhões são financiamentos concedidos para instituições de saúde filantrópicas e públicas e Santas Casas, e os demais R$ 4 bilhões, para indústria de equipamentos e exportação. No ano passado, o setor de saúde movimentou R$ 637 bilhões, o que representa 9,3% do PIB. Deste valor, 57% são provenientes do setor privado (inclui gastos com medicamentos, pagamento de planos de saúde individual e médico particular), e 43%, da área pública, segundo dados da Anahp, associação dos hospitais privados.
Questionado sobre se o banco de fomento tem alguma ação para operadoras de planos de saúde, cujos reajustes giram na casa dos 20%, o presidente do BNDES pontuou que não atua diretamente com as operadoras, mas espera que uma linha de crédito mais acessível para os prestadores de serviço de saúde impacte a cadeia toda.
Essa linha de crédito foi anunciada uma semana após o BNDES ter lançado um financiamento direto para empresas com faturamento superior a R$ 1 bilhão, por ano. O valor mínimo emprestado para essas empresas é de R$ 10 milhões. “São programas complementares. A linha de crédito anterior também pode ser usada para modernizar e melhorar a gestão”, disse Levy.
O banco de fomento também está preparando um programa de apoio à gestão das Santas Casas, instituições de saúde que atravessam há anos uma série crise financeira.
Fonte: Valor Econômico