NO INTERIOR DE SP, UNIDADE MÓVEL FAZ EXAME GRATUITO PARA DETECTAR CÂNCER DE PULMÃO
10/07/2019
O projeto é do Hospital de Amor, sediado na cidade do interior, e tem como objetivo combater a mais letal entre as neoplasias malignas. Só em 2018, o hospital tratou cerca de 1.300 pacientes com a doença, dos quais 400 eram casos novos –mais de um por dia, em média.
O exame, indisponível no SUS e em parte da rede privada, consiste em uma tomografia computadorizada de baixa dose, feita com radiação que se assemelha a 4 ou 5 raio-X de tórax. A carreta foi desenvolvida em parceria com uma empresa holandesa e com recursos do MPT (Ministério Público do Trabalho), oriundo de multas recebidas pelo órgão.
Foram examinados até agora 150 pacientes, todos de Barretos. Em 15 foram encontrados nódulos suspeitos, o que resultou na marcação de reavaliação em três meses. Um paciente foi diagnosticado com câncer de pulmão e já está em tratamento. Outros dois tinham tumores de mama e esôfago.
A decisão de implantar a carreta móvel se deveu à tentativa de diagnosticar mais precocemente a doença e, também, combater a exposição aos fatores de risco, segundo o radiologista do hospital Rodrigo Sampaio Chiarantano, 43.
“Apesar de ter uma frequência semelhante a outros cânceres, o de pulmão mata muito mais por que é uma doença que se desenvolve silenciosamente. Quando os sintomas aparecem, provavelmente já está em fase avançada”, disse.
Entre os sintomas de alerta estão tosse, tosse com sangue, dor no peito e falta de ar. A maioria dos pacientes, quando diagnosticados com a doença, já estão nos estágios 3 ou 4, os mais graves.
“A estatística mundial indica que a sobrevida após cinco anos é de 3,6% nos pacientes diagnosticados no grau 4, ou seja, a mortalidade é altíssima.”
Chiarantano disse que 80% dos casos de câncer de pulmão têm elo direto com a inalação da fumaça do tabaco e que um fumante passivo tem de 25% a 30% mais chances de desenvolver a doença que uma pessoa que não convive com quem fuma.
“A doença é mais frequente em pessoas de famílias mais vulneráveis socialmente, que são os que mais fumam e os que fumam de uma forma mais pesada. E são esses os pacientes que dependem estritamente do SUS. E no Brasil não existe o rastreamento no sistema público.”
A situação se agrava devido ao alto consumo de cigarros contrabandeados do Paraguai, na avaliação do especialista, por terem teores de nicotina e alcatrão desconhecidos.
Os cigarros paraguaios representam 55% de todos os que circularam em São Paulo no ano passado, segundo dados divulgados pelo Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial).
RESTRITO
Diferentemente do que ocorre com outras unidades móveis criadas pelo hospital, os exames só serão feitos em pacientes que estejam no grupo de risco: pacientes entre 55 e 75 anos, que sejam fumantes atuais ou que tenham parado há menos de 15 anos e que tenham histórico de tabagismo superior a 30 anos/maço.
Para calcular o último dos pré-requisitos, basta multiplicar o número de maços de cigarro que o paciente fumava por dia, em média, pelo total de anos que fumou. Se fumou dois maços por dia durante 20 anos, por exemplo, o paciente tem 40 anos/maço.
“Estamos falando de tabagismo pesado, de um grupo de alto risco. É para esses que endereçamos o rastreamento.”
Também, ainda conforme o radiologista, ao contrário de um exame de mama, que é “porta aberta”, a triagem na unidade de pulmão é feita por um médico e o paciente já sai encaminhado a um especialista.
“O paciente não vai ficar sem acompanhamento. O acerto que a gente fez aqui e imagina fazer nas próximas cidades é que a gente recebe o paciente para rastreamento e devolvemos dois laudos. Um é técnico com todas informações do exame, com achados referentes a câncer de pulmão e outros que surjam. O outro é endereçado ao paciente, didático, explicando o que foi encontrado ou não.”
O programa piloto está sendo feito no hospital em Barretos, após parceria com a prefeitura para examinar fumantes atendidos pela saúde local. Os casos estão sendo absorvidos pelo próprio hospital.
A ideia é levar a carreta para outros locais do país, também com parceiros que possibilitem que esses passos todos sejam seguidos.
Fonte: Folha de S. Paulo