ACESSO A NOVOS TRATAMENTOS PELO SUS AINDA É UM OBSTÁCULO
11/10/2019
Apenas 25% das pessoas no Brasil têm acesso a planos de saúde, mas 55% dos recursos no País são gastos com essa população” Stephen Stefani, presidente da Ispor A maior parte dos médicos atua no SUS e no setor privado e, com isso, vivenciamos situações muito díspares. Falta equidade” Maria Del Pilar Estevez Diz, diretora do Icesp
Os tratamentos mais modernos para o câncer de mama metastático são cada vez mais eficazes, mas ainda há um importante obstáculo a ser superado: o acesso. A imunoterapia, por exemplo, pode trazer benefícios como alta eficácia e baixos efeitos colaterais; no entanto, uma única caixa de medicamento pode custar R$ 15 mil. Poucas das novas drogas são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou pelos planos de saúde. A dificuldade do acesso frequentemente leva pacientes a entrarem na Justiça para obtenção do tratamento. Esses foram os principais temas debatidos no Fórum Estadão Think Câncer de Mama Metastático, realizado no começo de outubro, em São Paulo.
A dificuldade de acesso ao uso das novas tecnologias, segundo Maria Del Pilar Estevez Diz, diretora do Corpo Clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), é uma das razões para que o câncer de mama tenha ainda alta mortalidade no Brasil. “A maior parte dos médicos atua no SUS e no setor privado e, com isso, vivencia situações muito díspares. Falta equidade.” Ainda assim, o SUS possui recursos adequados para uma grande gama de tratamentos. Mas a desigualdade entre o sistema público e o privado está aumentando, segundo Luciana Holtz, presidente e diretora executiva do Instituto Oncoguia, uma ONG voltada para a informação e a qualidade de vida do paciente com câncer.
“Nós temos batalhado pela obtenção de um cenário mais sustentável e justo no acesso aos medicamentos, e temos acompanhado as mulheres em sua jornada pela busca de um tratamento”, afirmou. Segundo ela, as pacientes que procuram o SUS também têm passado por problemas de acesso aos cuidados médicos, já que o sistema é heterogêneo e complexo. Isso aumenta o tempo entre o primeiro diagnóstico e o início dos tratamentos, com impactos negativos na chance de cura. Segundo ela, esse problema é especialmente grave para as pacientes com tumor de mama metastático. “Essas mulheres podem ter a doença em fase avançada já no primeiro diagnóstico, mas muitas vezes elas já passaram antes por um tratamento, tiveram alta, precisaram voltar a buscar novos cuidados médicos após a metástase e enfrentam todas as barreiras novamente”, disse.
Para o oncologista Stephen Stefani, presidente da International Society for Pharma-coeconomics and Outcomes Research (Ispor) no Brasil, uma das origens do problema de acesso são as distorções no sistema. “Apenas 25% das pessoas no Brasil têm acesso a planos de saúde, mas 55% dos recursos no País são gastos com essa população”, afirmou. Além disso, há novos tratamentos contra o câncer que podem custar até US$ 10 mil quando chegam ao mercado – e pesam no sistema, aumentando a distorção. “Qualquer incorporação de um novo medicamento, se não for feita com cuidado, pode aumentar o número de excluídos. Os recursos são limitados, e não podemos conceder qualquer tipo de desperdício.”
Fonte: O Estado de S.Paulo