SETOR DE SAÚDE DEVE CRIAR 125 MIL EMPREGOS ATÉ O FIM DO ANO, APONTA ESTUDO
21/02/2020
Enquanto a maioria dos setores econômicos mostra oferta reduzida de empregos, na área de saúde o quadro é bem mais favorável. Projeção realizada a pedido da Confederação Nacional da Saúde (CNSaúde) estima uma taxa de crescimento de vagas nos serviços de saúde para 2020 de, no mínimo, 4,3% e, no máximo, de 5,4% em relação ao ano anterior. A expectativa é de um incremento de até 124,9 mil postos neste ano. Sócio da M&A Consultoria Econômica, que realizou o estudo, Marcos Lima explicou que a previsão otimista para 2020 tem a ver com o Produto Interno Bruto (PIB), cuja estimativa feita pelo mercado financeiro é de uma alta de 2,3%.
Observando o número de empregos gerados anualmente, a previsão é de que, em 2020, o aumento do número de vagas seja até 26,5 % maior do que o incremento verificado em 2019. “O setor da saúde tem um crescimento muito relacionado ao do PIB. Em 2018 e 2019, a gente teve um crescimento muito baixo. Então, essa mudança de 2020 tem a ver com uma expectativa de crescimento bem maior do PIB em relação ao que a gente teve em anos anterior”, disse Lima.
Secretário executivo da CNSaúde, Bruno Sobral, afirma que a área da saúde, ao contrário da economia como um todo, gerou novos empregos mesmo durante a crise. “No geral, é um setor que é mais estável, porque é um trabalho especializado, e as empresas não demitem, já que investiram muito na educação dos profissionais”, disse.
Apesar de a quantidade de empregos gerados em 2018 e 2019 ter se mantido praticamente a mesma, enquanto a do Brasil teve uma alta de 21%, Sobral afirma que o país precisou se recuperar das quedas passadas, contratando novamente pessoas que haviam sido demitidas, enquanto as contratações na saúde se mantiveram.
“O setor da saúde não demitiu durante a crise. Ao contrário, contratou. Por isso, olhando apenas 2018 e 2019, parece que a economia (nacional) cresceu mais. No entanto, foi só recuperação do buraco dos anos de crise”, disse.
Observando dados de 2010 a 2019, enquanto a quantidade de empregos no Brasil teve uma retração de 74,6%, na área da saúde subiu 8,26%. Para ele, a expectativa de crescimento no setor é positiva. “Como o PIB vai crescer, vai empurrar todos os setores, e ainda mais o da saúde”, disse.
Analisando dados de 2019, o setor representou 13,7% dos 644 mil empregos gerados no Brasil. No começo deste ano, o secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, disse que estimava cerca de 1 milhão de novos empregos formais em 2020. Se assim o for, a expectativa do setor da saúde chegaria a quase 13% da quantidade de empregos novos no Brasil.
Tendência
Especialista em mercado de trabalho e professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), Débora Barem acredita que a tendência é de uma curva ascendente para os próximos anos quando se fala em número de empregos gerados no setor. Entre as explicações para o aumento, Débora afirma que havia uma falta de crescimento na área. “Isso deixava todo mundo um pouco apreensivo, porque você tem uma população crescendo exponencialmente e o aumento de leitos estava literalmente parado”, disse. Segundo ela, há pouco tempo, a iniciativa privada começou a investir mais em construções de novas unidades hospitalares.
Outro ponto tem relação com o envelhecimento da população, que faz com que as pessoas utilizem mais os serviços de saúde e aumente a demanda, também, por determinados profissionais, como cuidadores. Além disso, a professora afirma que atualmente a percepção sobre cuidados com a saúde mudou, e as pessoas têm buscado cada vez mais a prevenção. “Se antes você ia para curar uma coisa que tinha, hoje você vai para prevenir uma doença”, disse.
Débora Barem afirma, ainda, que diferentemente de outros setores, em tempos de crise, a retração do setor da saúde é muito inferior que o de outras áreas. “Se você está doente, não tem como não procurar um hospital. Agora, você fica sem ir ao cinema, sem viajar. Então, saúde é algo que é de primeira necessidade. Por isso, a tendência de retração é menor”, pontuou.
Entre as unidades que expandiram em Brasília no ano passado está o Hospital Sírio-Libanês. Com isso, foram gerados 700 novos empregos na área. O diretor-geral do hospital em Brasília, Gustavo Fernandes, afirma que, em tempos de crise, a última coisa que se corta é a saúde. “Você começa pelo supérfluo. Assistência médica da sua família vai ser um dos últimos itens”, explicou.
Diretor do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Distrito Federal (Sindate-DF) e presidente da União-Geral dos Trabalhadores do Distrito Federal (UGT/DF), Newton Batista ressalta, ainda, que existe um aumento de especialidades médicas, o que aumenta o número de consultórios e de pessoas contratadas pelo setor. “A entrada no mercado é rápida quando você faz um curso na área da saúde”, completou.
O estudo feito pela M&A Consultoria Econômica apontou, também, uma projeção de aumento de empregados de níveis médio e superior, em contraposição a uma redução no número de trabalhadores de nível fundamental. A professora Débora Barem pontua que a área precisa sempre de profissionais capacitados. “Isso vale desde a pessoa que faz a limpeza, porque não é a mesma coisa fazer a limpeza de um hospital e de uma casa. O profissional precisa ser muito bem capacitado. Os danos da não capacitação (no setor) são vidas”, disse.
A técnica em enfermagem Mayara Cristina da Costa, 31 anos, que atua na área há cinco anos, afirma que existe muita oferta de trabalho no setor. “A empregabilidade é muito grande. Se você for para qualquer lugar, e está formado, você consegue serviço”, disse, explicando que não demorou a conseguir um trabalho. No momento, ela está cursando enfermagem, e pretende continuar se especializando na área.
Estudo realizado à pedido da Confederação Nacional da Saúde (CNSaúde) estima até 124,9 mil novos empregos gerados no setor para 2020, uma taxa de crescimento de 5,44%
Fonte: Correio Braziliense