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PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA APRIMORA SUS E GARANTE RENDA MÍNIMA A ALUNOS
04/05/2021

Foram 40 dias muito intensos para Regina Esteves, diretora-presidente da organização Comunitas, e para a equipe dela.

A tensão aumentava a cada instante no primeiro trimestre de 2020. Em fevereiro, era confirmado o primeiro caso de Covid no Brasil. Um mês depois, o país registrava a primeira morte por coronavírus. A essa altura, a pandemia já se espalhava pelas cidades.

Foi aí, em meados de março, que a Comunitas entrou em ritmo frenético. “Ao longo daqueles dias, minha rotina foi completamente quebrada, a ponto de não ter horário para o banho. Acordava muito cedo e já começava a mandar mensagens, falar ao telefone”, diz Regina. “Preciso reconhecer que minha equipe [de 32 pessoas] teve enorme paciência comigo, trabalhávamos todos os dias da semana, não havia horário.”

Fundada pela antropóloga Ruth Cardoso (1930-2008), em 2000, com sede em São Paulo, a Comunitas vinha se aprimorando no apoio às políticas públicas por meio do envolvimento de empresas e pessoas físicas —não só com financiamento mas na criação conjunta dos projetos.

Passo a passo, a entidade consolidava sua atuação no aprimoramento de gestões públicas em estados como SP, MG, RS, GO e PA. Foi bem-sucedida em iniciativas como o combate à mortalidade infantil em Santos (SP) e a redução dos índices de criminalidade em Pelotas (RS).

Em 2020, esse processo ganhou ritmo de urgência com a pandemia, o que faz dessa fase recente a mais importante da história de duas décadas da ONG, diz Regina. Ela tem conhecimento de causa para uma afirmação como essa, afinal, era uma das principais assistentes da “doutora Ruth”, como chama a mentora, e participou ativamente da criação da Comunitas, dirigida por Regina há 12 anos.

“Com a Covid, fomos testados diariamente. Tudo o que estava no conceito tinha que funcionar na prática e muito rapidamente”, diz ela, ciente de que a administração pública, sozinha, não teria agilidade ante às demandas da saúde. “Não era planejamento de médio ou longo prazo. Era planejamento de horas.”

Nessa primeira fase, em março, a Comunitas atuou em duas frentes principais. A primeira, na obtenção de recursos entre empresários e pessoas físicas com a meta de equipar hospitais públicos em diversos estados do país.

Esse projeto reuniu R$ 26 milhões e permitiu a compra de respiradores, monitores, centrais de monitoração, entre outros equipamentos. Desse modo, foi possível implementar 260 leitos de UTI.
A segunda frente foi a arrecadação de R$ 24 milhões para assegurar renda mínima a estudantes do ensino público em situação de extrema pobreza. Essa iniciativa garantiu apoio a 113 mil crianças de SP por meio do programa Merenda em Casa.

Um conjunto de fatores explica a eficácia dessas duas ações. Um deles é a experiência da Comunitas em lidar com os setores público e privado, as duas pontas que muitas vezes não dialogam. Dessa vivência, vem a agilidade.

“Eu fazia cotações para comprar equipamentos de saúde como contratação privada, o que tornava tudo mais rápido, mas seguia os critérios do atendimento público”, explica. Ela diz que os hospitais contemplados seguiram rigorosamente a lista de prioridades do SUS. “Cheguei a recusar doações de quem queria direcionar o dinheiro para um determinado hospital.”

Também pesou para o sucesso o que Regina chama de “mindset um pouco ao contrário”. É comum que ONGs iniciem a captação de recursos para, em seguida, sistematizar a execução das ações. A equipe dela fez o inverso: avaliou de modo objetivo como responder ao desafio e depois foi em busca do financiamento.

Nos bons resultados da Comunitas, é preciso considerar a ampla rede de contatos de Regina, acionada por ela com grau inédito de persuasão.

Formada em administração, a paulista de Marília foi diretora de projetos especiais do Ministro da Educação e integrante do Conselho da Comunidade Solidária, ambos sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso.

Após essa passagem pelo governo, continuou a trabalhar com a ex-primeira-dama Ruth Cardoso e, depois, assumiu a Comunitas.

Participa de diversos conselhos, como o de Administração do Grupo Marista e o Conselho Social da Fiesp.
Na pandemia, as conexões de Regina foram úteis como nunca antes. Cerca de cem empresas colaboraram, como AC Camargo Center, EDP, Magalu, Brookfield, Amazon, Votorantim, Comgás e Santander. “Fiquei emocionada quando meus filhos [Mateus, 16, e Carolina, 14] viram a minha exposição em grupos de redes sociais dos amigos deles e falaram disso com orgulho.”

A ação da Comunitas na pandemia não se restringiu aos 40 dias iniciais. Após fortalecer hospitais públicos e articular a transferência de renda para famílias mais pobres, a entidade passou, a convite do governo paulista, a coordenar as doações para a montagem de fábrica de vacinas no instituto Butantan, em São Paulo. Lá será produzida a Coronavac, parceria do Butantan com a chinesa Sinovac, e de outros imunizantes.

Sem vacina, o vírus assusta. Mesmo assim, Regina arrisca falar na governança compartilhada, defendida pela Comunitas, como legado da pandemia. “Existe reforço na conscientização de que a parceria público-privada para projetos de impacto na sociedade precisa permanecer.”

AÇÕES DE ENFRENTAMENTO À COVID-19

  • 500 mil pessoas impactadas
  • R$ 50 milhões em recursos mobilizados
  • R$ 55 em renda extra a alunos em extrema vulnerabilidade
  • 791 equipamentos para UTIs (respiradores, oxímetros e centrais de monitoramento)
  • Distribuição de bolsas-merenda para todos os alunos da rede pública de SP
  • 260 leitos de UTI

Folha de S.Paulo