EM GESTO A SETOR CARO A BOLSONARO, ALCKMIN DEFENDE CRIAÇÃO DE SECRETARIA PARA ATENDER SANTAS CASAS
25/08/2022
O ex-governador participou nesta quinta-feira, 25, do 30º Congresso Nacional das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, em Brasília. A agenda, no mesmo dia em que Lula será sabatinado no Jornal Nacional — a entrevista é considerada um momento importante da campanha e tem exigido preparação do petista —, mostra o empenho do vice em se aproximar de um setor simpático ao presidente. Antes de acompanhar Lula ao Rio, onde será a entrevista, Alckmin se encontrou com dirigentes da Confederação das Santas Casas de Misericórdia (CMB) no momento em que a entidade se diz desassistida pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).
— Lula tem consciência da gravidade da situação e da dificuldade que vive quem atende SUS. Tem de melhorar a remuneração e discutir um novo modelo de nova contratação, algo mais moderno que a tabela SUS. Defendo que o Ministério da Saúde tenha secretaria só para as filantrópicas para um diálogo permanente. Quando a gente houve mais, erra menos — disse Alckmin.
Segundo representantes da categoria, Bolsonaro não cumpriu, até agora, uma promessa, feita há mais de um ano, de repassar R$ 2 bilhões a Santas Casa e Hospitais Filantrópicos para fazer frente ao rombo financeiro gerado pela pandemia. O Ministério da Saúde alega que não há orçamento para o envio do recurso.
— Foi feito um compromisso, em audiência pública, levamos nossas 17 federações à época, e publicamente foi prometido por ele (presidente) e Queiroga (Marcelo Queiroga, ministro da Saúde). E até agora não saiu. Hoje nossas reinvindicações não são assistidas pelo governo Bolsonaro — afirma o presidente da CMB, Mirocles Véras.
Além do endividamento das instituições, o setor é contra a aprovação do piso da enfermagem em R$ 4,7 mil, que virou lei sancionada por Bolsonaro. Nos cálculos da CMB, a lei tem impacto de 6,3 bilhões. Questionado pela imprensa sobre o piso, Alckmin não se posicionou, mas defendeu um novo modelo de contratação com as instituições, sem detalhar a proposta.
Bolsonaro possui consideração pelo setor pois afirma que teve sua vida salva graças a uma casa de saúde filantrópica. Na campanha eleitoral de 2018, após ser alvo de uma facada durante ato de campanha, foi socorrido na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
Questionado sobre o perfil do ministro da saúde em eventual governo Lula, o Alckmin defendeu um nome com experiência em organização do SUS, gestão de alta complexidade e com capacidade de diálogo para ouvir os diferentes setores. Cobrado a fazer promessa específicas ao setor, não se comprometeu com propostas, mas pediu apoio:
— Não tem magica, vamos buscar maneira de equacionar a questão do financiamento, se não, vamos ver todo dia diminuir os leitos do SUS, é evidente. A gente quer uma chance para servir, entendo que podemos avançar muito mais, especialmente na saúde.
No setor, o ex-governador é respeitado por ser médico e ter criado, durante sua gestão no governo de São Paulo, o programa Santas Casas SUStentáveis, que previa repasses adicionais escalonados de acordo com perfil do hospital — com percentuais específicos para instituições de alta complexidade, médio porte e hospitais de apoio. Questionado se um modelo semelhante estará no plano de governo de Lula, disse que este projeto deve servir de experiência para o governo federal.
O gesto de Alckmin se deslocar de São Paulo a Brasília foi visto como um aceno importante pela entidade. A campanha de Lula foi a única a confirmar presença e enviar o candidato a vice ao evento. A CMB convidou os três principais presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas para o debate. Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT) não confirmaram presença. O setor reúne 1 milhão de trabalhadores no país em 1,8 mil Santas Casas e Hospitais Filantrópicos.
— Indiscutivelmente é uma atenção que o presidenciável Lula tem com o nosso setor — afirma Véras.
De acordo com o dirigente, a entidade descarta manifestar apoio a qualquer presidenciável.
Jornal O Globo