SOLUÇÕES PARA A SAÚDE PAULISTA COMEÇAM POR SUSTENTABILIDADE DOS FILANTRÓPICOS
23/12/2022
A Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp) tem um longo histórico de colaboração com o estado para aprimorar a assistência aos paulistas, principalmente na rede pública de saúde. E, apesar dos imensos desafios, seguimos avançando e atendendo a uma população que demanda cuidados cada vez mais complexos, que exigem contínuo aperfeiçoamento da infraestrutura e dos profissionais e, principalmente, um investimento crescente que muitas vezes não é acompanhado pela contrapartida do SUS.
A partir de janeiro de 2023, teremos uma nova administração estadual, desta vez de um partido diferente, com a qual já estabelecemos o compromisso de continuar a cooperação. O governador eleito Tarcísio de Freitas e o secretário de Saúde anunciado, Eleuses Paiva, aliás, reconheceram de imediato o importante papel das Santas Casas e dos hospitais filantrópicos na estrutura de atendimento público em São Paulo, e destacaram a prioridade de promover a sustentabilidade dessa rede.
Nunca é demais lembrar que somos mais de 400 unidades filantrópicas e oferecemos quase 54 mil leitos, entre internação e UTI, bem distribuídos entre a capital e o interior paulista. Em aproximadamente 150 municípios, nossos serviços são a única alternativa de assistência gratuita aos cidadãos. Além disso, somos responsáveis por cerca de metade das internações, 50% dos procedimentos de média complexidade e por mais de 70% dos de alta complexidade na rede pública, com alguns hospitais de referência que compartilham inovações e boas práticas.
Toda essa representatividade, repito, foi prontamente reconhecida pelo novo Executivo estadual, que também garantiu a sequência de alguns projetos e programas fundamentais que vínhamos desenvolvendo com o antigo governo. Por tudo isso, aceitamos o convite para fazer parte da equipe de transição do governo na área da saúde. Transição que, posso afirmar, está sendo feita de maneira harmônica e produtiva, com toda a colaboração da administração anterior.
Nesse time, temos a oportunidade para um diálogo franco e não medimos esforços para contribuir com mudanças positivas. Junto com o governo e especialistas de outras instituições, estamos empenhados na construção de uma proposta de transformação da rede estadual, colocando o paciente no centro de uma assistência resolutiva, humana e sustentável.
Entre outras medidas, estamos sugerindo foco imediato em ações que reduzam as filas para os procedimentos eletivos e estimulem a prevenção sistemática, com abordagem multidisciplinar, aperfeiçoamento de todas as etapas da jornada e conscientização da população. Também destacamos o Programa de Saúde Digital para a incorporação de tecnologia que, de fato, compartilhe valor por toda a rede e gere resultados no desfecho clínico e na experiência do paciente.
Mas, principalmente, atuamos para encontrar soluções de financiamento, atualmente o principal desafio da rede filantrópica. Está muito bem documentado e apresentamos todos os dados para os profissionais da transição, que o SUS cobre apenas uma fração do valor real que os filantrópicos empregam no atendimento público. Em média, a cada R$ 100 gastos, o SUS devolve R$ 60.
Isso é a média, mas quando detalhamos os números é possível perceber situações bem mais graves em áreas sensíveis. Um parto normal, por exemplo, tem um custo médio para os hospitais da Fehosp de R$ 2.527, mas o SUS aprova pagamentos – também em média – de R$ 304. Por isso, todos conhecem um exemplo de maternidade que fechou ou não atende mais a rede pública. E essa é uma tendência.
Estamos prontos e com disposição infinita para colaborar em todas as frentes, mas já deixamos claro aos nossos colegas que não haverá avanços significativos enquanto não enfrentarmos definitivamente a questão do financiamento. E o novo governo parece sensível a isso. Então, vamos em frente.
EDSON ROGATTI – Presidente da Fehosp (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo)
Jornal JOTA