PENSAMENTOS SOBRE COMO O ATENDIMENTO PRESTADO PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO BRASIL PODE EVOLUIR
07/03/2023
O ano de 2023 apresenta-se como uma grande oportunidade de voltar a refletir, discutir e, decididamente, iniciar o tão esperado processo de transformação na área da saúde. Acompanho essa discussão com muita intensidade desde o início da década passada, patrocinando encontros com diversos e importantes atores deste segmento. O diagnóstico é quase o mesmo, porém as ferramentas e a conscientização são maiores hoje.
Nosso sistema é universal e multifacetado. Fundos públicos dominam o patrocínio do sistema e têm o SUS, Sistema Único de Saúde, como estrutura-base para executar os diversos procedimentos. Por ser universal, um paciente tem direito a saúde de qualidade sem distinção social ou econômica. Mas é multifacetado porque o sistema de saúde público divide seu protagonismo com um sistema privado e, esse, atende aproximadamente 25% da população – ou seja, os 50 milhões de habitantes mais privilegiados! Os 160 milhões de brasileiros remanescentes lutam com dificuldade para receber o atendimento preconizado e ambicionado.
A qualidade do atendimento médico parece que vai se degradando à medida que vamos nos distanciando da cidade de São Paulo – para ser mais preciso, à medida que vamos nos distanciando do Complexo das Clinicas de São Paulo. É claro, nesta afirmação existe alguma falha intencional, simbólica e provocativa. O objetivo é mostrar a falta de recursos no setor como um todo.
Alguns hospitais públicos, como o mencionado, se caracterizam como ilhas de gestão e tecnologia que apresentam, como consequência, um melhor atendimento ao paciente. Desde muito tempo, esse complexo investiu em melhora da qualidade dos recursos humanos, de sistemas e da gestão como um todo, com um foco muito forte em inovação. E o resultado na qualidade do atendimento na maior cidade da América Latina impressiona mesmo! A base desta evolução passa pela forma com que este gigante interpretou sua missão e se organizou em torno dela. Basicamente, a gestão de todos os recursos dos hospitais pertencentes a esse complexo está voltada à melhoria da qualidade de saúde do paciente.
De fato, o sistema foi idealizado em torno do paciente e não das doenças que o acometem, por exemplo. Pensando de uma forma mais ampla, um dos problemas mais visíveis e traiçoeiros do nosso sistema de saúde no Brasil é o da informação. Na verdade, há falta de informação organizada e consolidada. Enquanto hospitais, num espectro menor, já possuem um cadastro único ou um prontuário único, no aspecto geral isso não pode ser consolidado ainda. Hoje, ao contrário do passado, não há barreiras tecnológicas para implementação de um cadastro único, geral. Seria fantástico imaginar o avanço na saúde depois da implementação do CUP (Cadastro Único do Paciente) no Brasil. Com as atuais ferramentas de inteligência artificial, em pouco tempo poderíamos chegar a diagnósticos preditivos e nos antecipar a doenças/problemas de saúde, tratando destas doenças (ou das futuras potenciais doenças) de forma preventiva.
Há mais um destaque a ser feito: a estrutura do SUS merece cuidado. Nossa cultura europeia, com especial influência portuguesa, nos trouxe uma estrutura de apoio à saúde com características beneficentes. E o SUS se “apropriou” destas características para aumentar seu raio de ação. Nas regiões Sul e Sudeste, principalmente, a importância das Santas Casas no acesso à saúde é imperativa. O leitor se surpreenderá com o número de hospitais beneficentes como as Santas Casas existentes no Brasil (mais de 2500, de um total de 6500 hospitais). Porém, as Santas Casas correspondem a quase 80% do volume total de procedimentos de alta complexidade (procedimentos de alto custo e alta tecnologia empregada).
Não há que se discutir sobre a importância destas organizações, mas sim como elas podem evoluir sob o aspecto da tecnologia, gestão e inovação. De fato, a grande maioria das Santas Casas tem dificuldades de gestão, tanto financeira quanto médica.
O ano de 2023 nos traz esperança. A nova Ministra da Saúde, Nísia Trindade, competente profissional da área, certamente recuperará as discussões sobre esses e outros assuntos. Retomar a coordenação do SUS; estar bem conectada com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; recuperar o calendário vacinal; fortalecer a indústria nacional. Estes são alguns aspectos que precisamos evoluir. Eu estou otimista.
Jornal GGN