EM REPORTAGEM ESPECIAL DO VALOR ECONÔMICO, DIRETOR-PRESIDENTE DA FEHOSP RESSALTA MISSÃO DO SETOR NA BUSCA POR RECURSOS
31/05/2023
Em reportagem especial sobre hospitais, produzida pelo jornal Valor Econômico, o diretor-presidente da Fehosp, Edson Rogatti, ressaltou que o principal papel dos dirigentes de instituições filantrópicas é encontrar o caminho do dinheiro para mantê-las funcionando. “É preciso frequentar os salões de Brasília e se aproximar de deputados, senadores e servidores do governo, de todos os escalões, para conseguir verbas e renegociar dívidas. Enquanto não tivermos um projeto de lei que garanta uma remuneração justa para os nossos hospitais, de uma vez por todas, essa é a nossa missão”, frisou.
Leia a matéria completa no site do Valor Econômico (conteúdo para assinantes do jornal) https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/hospitais/noticia/2023/05/31/tecnologia-garante-evolucao-da-medicina-mas-expoe-desigualdades-no-atendimento.ghtml, ou abaixo.
Tecnologia garante evolução da medicina, mas expõe desigualdades no atendimento
Centros de excelência intensificam os procedimentos de alta complexidade a distância
Por Luiz Maciel — Para o Valor, de São Paulo
Retrato fiel do quadro brasileiro de desigualdades, a prestação dos serviços de saúde no país é feita por hospitais de excelência nos grandes centros, que estão entre os melhores do Hemisfério Sul, ou em postos de atendimento com enormes carências de médicos e equipamentos no interior das regiões menos desenvolvidas.
Se não é uma situação nova, trata-se agora de uma realidade ainda mais desafiadora pelas tendências que vêm ganhando força nos últimos anos. Por um lado, novos medicamentos e diagnósticos cada vez mais precisos, apoiados por exames de imagem, estão aumentando a expectativa de vida mundial. Por outro, esse envelhecimento da população eleva a incidência de doenças crônicas e o número de consultas e internações, superlotando os hospitais e inflando os preços dos planos de saúde.
Embora muito bem-vinda, a evolução tecnológica sempre foi um fator de encarecimento dos custos hospitalares, até por estimular a realização de exames nem sempre necessários, nota o radiologista Giovanni Guido Cerri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). “Hoje, a tecnologia também está viabilizando procedimentos médicos a distância, o que resulta em grande economia de tempo e dinheiro, além da disseminação da boa medicina. Quando o país tiver acesso total à internet móvel 5G será possível realizar cirurgias complexas com a participação de um médico especialista em São Paulo, orientando um colega no interior da Amazônia”, afirma Cerri, também presidente do InovaHC, o braço de inovação do Hospital das Clínicas de São Paulo.
A instituição realiza por ano mais de 50 mil cirurgias e 230 mil atendimentos de urgência. A corrida tecnológica no setor de saúde está mesmo em ritmo acelerado, aponta estudo da Strategy&, consultoria estratégica da PwC, que acaba de ser divulgado. De acordo com o documento, até o fim desta década o atendimento digital será tão corriqueiro quanto as compras on-line de hoje. Médicos conduzirão ensaios clínicos com pacientes remotos, e a inteligência artificial permitirá tratamentos hiperpersonalizados.
“O hospital do futuro será uma rede de ativos de entrega física e virtual conectada por um único sistema e recursos digitais, que permitirá o atendimento em comunidades, em casa ou em empresas, de acordo com a necessidade dos médicos e a preferência dos pacientes”, prevê Bruno Porto, sócio da consultoria. Enquanto o sistema 5Gnãochega a todos os rincões do país para viabilizar esse futuro, o país segue avançando na implantação da telemedicina — que requer uma tecnologia mais simples—desde que se viu obrigado a isso na pandemia de covid-19, encerrando um interminável debate sobre a validade das consultas remotas.
Graças à telemedicina, um projeto do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS), iniciado em 2018, conectou 200 ambulatórios da região Norte a médicos de sete especialidades do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, um dos mais avançados do Brasil. “Só no ano passado foram feitos 60 mil atendimentos”, informa o presidente do Einstein, Sidney Klajner. Em 2023, esse projeto vitorioso está sendo expandido para cem ambulatórios do Centro-Oeste. Pioneiro em várias iniciativas tecnológicas, o Einstein acaba de incorporar o braço robótico Hugo, a última palavra entre equipamentos que realizam incisões e dissecções cirúrgicas de forma mais precisa —e menos invasiva — do que são capazes mãos humanas. “Robôs comandando cirurgias não são novidade no Brasil há 15 anos, mas esta é a primeira vez que um procedimento pôde ser transmitido em 3D num telão para toda a equipe”, diz Klajner. Comandado pelo urologista Ariê Carneiro, o Hugo removeu com sucesso a próstata de um paciente no dia 9 de maio.
Na outra ponta do sistema de saúde brasileiro, porém, ainda há bem menos espaço para a tecnologia e muito mais para o desafio cotidiano de encontrar meios de atender tanta gente que depende da assistência médica universal e gratuita garantida pela Constituição de 1988. Juntos, os 4,4 mil hospitais privados e os 2,6 mil filantrópicos do Brasil oferecem cerca de 458 mil leitos à população —o que representa uma disponibilidade de 2,1 leitos por mil habitantes, índice bem inferior à proporção de 3,2pormilindicadopelaOrganização Mundial da Saúde (OMS).
Apesar de suas deficiências, o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro segue sendo uma referência de política assistencial para o mundo todo, até porque nenhum outro país com mais de 100milhõesdehabitantes encara o desafio de dar atendimento médico de graça a quem entrar na fila de seus ambulatórios e hospitais públicos ou credenciados.
Com um compromisso tão ambicioso, o SUS absorve a maior parte do orçamento federal destinado à Saúde — que este ano é de R$ 188,3 bilhões, o maior de todos os ministérios —, o que não quer dizer que se trata de uma verba suficiente para tantas necessidades. Há anos que o SUS não consegue, por exemplo, remunerar devidamente os procedimentos feitos pelas Santas Casas e demais hospitais filantrópicos, que cumprem um papel fundamental no atendimento aos 75% de brasileiros que não possuem plano de medicina privado — em cerca de 900 municípios esses hospitais de caridade são a única opção de atendimento médico.
Segundo estudo do Conselho Federal de Medicina (CFM), divulgado em novembro de 2022, pelo menos 84% dos procedi mentos realizados pela rede filantrópica para o SUS não tiveram nenhum reajuste nos últimos dez anos.
A Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) têm uma conta mais detalhada desse desequilíbrio: desde o início do Plano Real, em 1994, a tabela do SUS sofreu um reajuste médio de apenas 93,77%, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 636,07%, o salário mínimo foi corrigido em 1.597,79% e o gás de cozinha aumentou 2.415,94%. “Os reembolsos do SUS cobrem apenas 60% dos nossos custos, o que nos obriga a recorrer a doações, empréstimos bancários e emendas de parlamentares para fechar o caixa. Pagamos cerca de R$ 100 milhões de juros por mês por empréstimos bancários que somam mais de R$ 10 bilhões. Recentemente, o governo federal repassou R$ 2 bilhões às nossas entidades, o que aliviou um pouco a situação, mas está longe de resolver o nosso déficit”, reclama Mirocles Véras, presidente da CMB.
Edson Rogatti, que presidiu a CMB entre 2014 e 2020 e hoje comanda a Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp), conta que o principal papel dos dirigentes de instituições filantrópicas é justamente encontrar o caminho do dinheiro para mantê-las funcionando. “É preciso frequentar os salões de Brasília e se aproximar de deputados, senadores e servidores do governo, de todos os escalões, para conseguir verbas e renegociar dívidas. Enquanto não tivermos um projeto de lei que garanta uma remuneração justa para os nossos hospitais, de uma vez por todas, essa éanossa missão”, afirma Rogatti.
O dirigente da Fehosp conhece bem essa dinâmica, porque foi convencendo congressistas a destinar parte de suas verbas para a Santa Casa de Palmital (SP), da qual era provedor, que chamou a atenção de seus colegas e acabou convidado a assumir uma diretoria da federação, duas décadas atrás. “Os deputados percebiam o meu esforço e passavam a me dar mais atenção. O pouco que eles reservavam para o hospital da minha cidade, de pouco mais de 20 mil habitantes, era o bastante”, conta.
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