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Poucos médicos, porém unidos.
11/03/2016

Carlos Madeiro
Colaboração para o UOL, no Recife

11/03/2016 - 06h00

Na porta do hospital Barão de Lucena, localizado em uma das mais importantes avenidas do Recife, a Caxangá, o vai e vem de pacientes e ambulâncias é intenso. Na recepção do local, um cachorro descansa tranquilo enquanto mulheres não param de buscar informações. A unidade é a principal maternidade dePernambuco, referência em atendimento e partos de alto risco. Foi de lá que saiu o primeiro comunicado oficial, enviado à Secretaria Estadual de Saúde, sobre um aumento inesperado de casos de microcefalia. À época, o vírus da zika era uma remota suspeita de explicação para os casos.

Em setembro de 2015, a neuropediatra Vanessa Van Der Linden percebeu que havia algo errado no berçário. Em duas semanas, ela atendeu cinco casos de bebês com microcefalia. "Eles tinham características de infecções congênitas e, quando fazíamos exame, não encontrávamos nada", diz, citando que aquilo a fez suspeitar que um novo agente estaria sendo responsável pela alta inesperada.

Para Vanessa, o baixo número de profissionais acabou sendo uma aliado na percepção rápida do problema. "Esse hospital é enorme, e eu sou sozinha, a única neuropediatra para dar conta de berçário, dos bebês de risco, do ambulatório. Existe uma escassez, e não é culpa do governo: faltam profissionais no Estado. Como somos poucos, e somos unidos, sempre fazemos reunião; isso ajudou a conversar sobre [os casos]", disse. 

O Barão de Lucena recebe pessoas de todas as cidades de Pernambuco. Lá é possível ver, além de ambulâncias, carros de vereadores, táxis e veículos do Bolsa Família servindo para transporte de pacientes. "Venho aqui quase todo mês trazer gente", diz um motorista de carro do Bolsa Família de um município (que ele pede para não revelar), que trouxe uma paciente para consulta ginecológica. "O certo seria trazer de ambulância, mas não tinha hoje. Então, melhor trazer que deixar lá", afirma.

"A demanda aqui é muito grande, independente da microcefalia. A nossa estrutura da rede está sempre superlotada. A nossa UTI está sempre cheia. Temos também a unidade intermediária, que deveria trabalhar com 15, 20 meninos, mas sempre estamos além", conta a intensivista Joelma Arruda.

A costureira Maria José Santos, 22, é natural de Caruaru (130 km do Recife), maior cidade do interior pernambucano. No dia 7 de janeiro, porém, ela precisou ser trazida às pressas para o hospital para ter o filho porque não havia vagas de leito de UTI na cidade.

"Minha pressão subiu de vez e tive uma gravidez de risco. Estava certo para ter o parto lá [em Caruaru], mas a UTI estava ocupada. Como não tinha vaga, fui transferida para cá", diz a jovem, que passou oito dias internada no hospital. "Aqui foi tudo de bom, só tenho a agradecer o atendimento", conta.

O hospital também abraça pacientes de cidades menores que não têm como dar suporte à gravidez de risco. Foi assim com a agricultora Alcilene Irene de Oliveira Bezerra, 27, que chegou ao hospital vinda de Orocó (a 569 km do Recife) no dia 14 de agosto de 2015. Veio para uma consulta de avaliação, por conta de hipertensão gestacional, mas como o caso foi considerado grave, acabou ficando 100 dias na capital pernambucana. "Minha filha nasceu prematura no dia 4 de setembro, com 915 gramas. Tive que ficar um bom tempo aqui porque ela estava internada. Só no dia 25 de novembro teve alta", diz.

O dia a dia no hospital é de uma rotina puxada. No local é realizado um parto a cada duas horas, em média. Apesar do esforço dos profissionais, nem sempre é possível oferecer o melhor atendimento aos pacientes. 

A estudante Karina Borges da Silva, 17, moradora do Recife, foi ao Barão de Lucena e teve sua filha no dia 22 de janeiro. "Fui levada para o corredor porque disseram que a médica estava fazendo uma cesárea na sala de cirurgia, e como a menina já estava saindo, não tinha como subir [para a área de parto]. Tive minha filha no corredor", diz.

A direção do hospital informou que a jovem deu entrada já em período expulsivo e, como não houve tempo de aguardar a maca, o parto foi feito no setor de triagem com o acompanhamento da equipe médica da unidade. A direção disse ainda que o parto ocorreu sem qualquer tipo de complicação.

A filha de Karina está na fase de triagem para confirmar ou não o diagnóstico de microcefalia. "Tenho um pouco de medo. Minha família diz para eu pensar positivo", diz.

 


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