Fone: (11) 3242-8111 Fax: (11) 3112-0554 | Endereço: Rua Libero Badaró, 158 – 6º andar – São Paulo – SP

Com dengue, gripe pode sobrecarregar saúde, diz diretor de ministério
31/03/2016

O aumento de casos da gripe H1N1 em perodo atpico e em meio ao avano de dengue, zika e chikungunya ainda no um fenmeno nacional e tem dimenso imprevisvel. A tendncia, porm, sobrecarregar os servios de sade, afirma Cludio Maierovitch, diretor do departamento de doenas transmissveis do Ministrio da Sade.

“No adianta vendermos uma tranquilidade que no verdadeira. Estamos todos preocupados com a quantidade de doenas transmissveis ao mesmo tempo. A que mais provoca mortes a gripe.” De acordo com ele, a pasta est “em plena preparao para uma gravidade maior”.

Maierovitch diz que, alm de So Paulo, possvel perceber um aumento de casos de H1N1 em Gois e Santa Catarina, mas que nos outros Estados eles ainda so isolados. Confira trechos da entrevista.

*

Folha – Como o ministrio v o avano da gripe H1N1?

Cludio Maierovitch – Estamos vivendo um aumento de casos. atpico que j comecem nesta fase do ano. A questo que no existe medida de sade pblica capaz de impedir a circulao dos vrus de gripe. A vacinao serve para reduzir a proporo de casos graves e bitos entre as pessoas que tm maior risco de gravidade. Ela no capaz de reduzir a circulao do vrus, mas de proteger pessoas de maior risco, como gestantes e idosos.

O que pode explicar esse aumento de casos fora de poca?

De verdade: no sabemos. Algumas pessoas tm falado que foi uma poca em que as pessoas viajaram ao hemisfrio Norte e trouxeram vrus de l. Mas isso ocorre todo ano, o tempo todo. Sabemos, por experincias anteriores, que os anos em que o vrus comea a circular mais cedo tendem a ser mais preocupantes do ponto de vista do comportamento epidmico.

Qual a expectativa do Ministrio da Sade? A situao pode ficar mais grave?

Estamos em plena preparao para uma gravidade maior. Isso pode acontecer.

Podemos qualificar isso como uma nova epidemia?

Todo ano temos epidemia de gripe. Podemos falar em trs perguntas: quando comea, qual a intensidade e qual vrus que predomina. Neste ano, sabemos que comeou mais cedo, e sabemos que at o momento tem predominado o H1N1. Difcil ter uma previso, mas essas duas coisas juntas aconteceram em 2012 e 2013 e nos deram muita dor de cabea.

Ns tivemos uma boa resposta naqueles dois anos, porque ficamos muito preocupados que o tratamento no iniciasse no tempo adequado. Estamos trabalhando nisso tambm neste ano para que os profissionais de sade estejam em alerta quanto ao momento de se iniciar o tratamento com o antiviral, a qualquer sinal de falta de ar. Esse o grande sinal de agravamento da doena.

A situao que temos agora indica aumento de casos de SRAG (Sndrome Aguda Respiratria Grave). Houve outro momento semelhante?

No faz muito tempo, infelizmente. 2015 foi um ano excepcionalmente calmo, que no deve servir como comparador, talvez porque no teve muito inverno. 2014 tambm. 2013 foi um ano do qual estamos nos lembrando agora, de circulao intensa do vrus na regio Sudeste. 2012 tambm deu trabalho, mas principalmente na regio Sul, em Estados menos populosos que So Paulo. Ainda no sabemos como vai ser o comportamento neste ano.

Boletim traz notificaes em 11 Estados. A abrangncia maior neste ano?

Ainda no podemos falar nisso, porque todos os anos temos isolamento de vrus em praticamente todos os Estados. O que preocupa no o fato de ter o vrus ou um bito causado pela gripe. Isso temos todos os anos. Durante muito tempo ainda teremos gente morrendo por gripe todos os anos. A questo observarmos um aumento na quantidade de casos. Por enquanto observamos que no Estado de So Paulo est havendo aumento. Temos indcios de que em Gois e Santa Catarina h algum aumento tambm. No podemos fazer essa afirmao ainda em relao a outros Estados. No temos esse indicativo [de epidemia em vrios locais], e espero que no tenhamos.

Estamos num perodo com vrias epidemias e surtos. Essa situao atual pode fazer com que se perca a ateno em relao aos casos de zika, dengue e chikungunya?

Estamos num ano intenso em vrios sentidos. Parece que a poltica est se manifestando tambm nos vrus. Ns estamos acostumados todo ano a ter uma epidemia de vero e uma de inverno. A de vero de dengue, e a de inverno de gripe. No momento em que as coisas se sobrepem, existe a tendncia de que os servios de sade fiquem sobrecarregados.

Isso exige um esforo a mais que j vinha sendo exigido em funo da entrada desses novos vrus, que so zika e chikungunya. No adianta vendermos uma tranquilidade que no verdadeira. Estamos todos preocupados com a quantidade de doenas transmissveis ao mesmo tempo. A que mais provoca mortes a gripe.

Doenas transmitidas pelo Aedes aegypti

J se falou em usar a vacina utilizada em 2015. Ela seria eficaz neste caso?

A vacina de 2015, assim como a de 2016, tem trs cepas de vrus. Uma delas coincidente entre os dois anos, que justamente a H1N1 de 2009 [quando ocorreu a pandemia de gripe A]. Para este componente, ela igualmente eficaz. Mas ela no d cobertura para os outros dois vrus que tm circulao provvel em 2016, o H3N2 e o vrus B.

A preveno a nica forma de diminuir a circulao do vrus. Trabalhamos em trs pilares: reduo da velocidade de circulao do vrus, proteo das pessoas mais vulnerveis com uso da vacina e tratamento precoce das mais vulnerveis ou em casos com maior gravidade.

Seria a pior situao desde 2009, quando tivemos a pandemia?

Difcil saber, pois estamos no comeo. O ano da pandemia no pode ser um comparador, porque quando pega o grfico, muito diferente de tudo. A comparao que podemos fazer neste ano que tivemos mais casos para essa mesma poca do ano.


Jornal Folha de São Paulo